Tudo o que pensamos, vivemos, sentimos, queremos.

31 de dezembro de 2011

The End, 2011

Fim de percurso. Linha de chegada. Ponto final. É estranho acreditar que chegamos ao último dia do ano. Não sei para você, mas parece que dois mil e onze demorou a acabar. Na verdade, esta delimitação de tempo inventada pelo homem - horas, dias, meses, anos -  com a funesta intenção de facilitar nossas vidas, acaba nos deixando ainda mais ansiosos. "Quando vai acabar", "quando vai começar" são alguns dos dilemas que enfrentamos  com isso. Conheço alguns pessimistas que dizem que não há diferença alguma entre o 31 de Dezembro e o 1º de Janeiro. É só mais um dia. Nada muda, segundo eles. Eu discordo. Discordo não na forma, mas no que tange a essência. Existe um poder mágico - que não se faz por poderes celestes, mas no íntimo humano - que faz com que as pessoas façam promessas, almejem sonhos e tracem planos para o ano vindouro, e isso geralmente não acontece nos outros dias do ano. É só nesse mágico dia 31 de Dezembro - ou perto dele - que as pessoas começam a devanear, pensar, almejar, sonhar com o novo ano. Sou desses. Queira Deus que não sejamos frustrados.

Digo que seria ingratidão sair deste ano sem agradecer. Devo agradecer. Saio de dois mil e onze mais crescido, mais metido, mais amigo, mais humano, mais gentil, mais crítico, mais cético, mais sarcástico, mais de tudo um pouco. Vi amigos queridos casando, vi gente querida morrendo, vi gente amada chorando, vi gente de bem sorrindo. Vi tragédias, lamúrias, sofrimentos. No entanto, fui abraçado por crianças, fui acalentado em momentos de dor, conheci gente que quero pra sempre, fui aconselhado a viver mais um pouco, fui informado que a dor já passou.

Saio feliz pois sei que, neste ano, passei a fazer parte da vida de algumas pessoas. Cativei alguns poucos. Fiz gente sorrir com besteiras. Fiz gente chorar com a verdade. Calei muita gente insciente. Calei-me na minha insensatez. Parei para ouvir grandes homens. Outros, tive a honra de abraçar. A outros ainda, pude beijar a mão, em sinal de respeito. Chorei ao saber que alguns velhos se foram (e como se foram velhos este ano!). Perdemos gente ébria que o mundo aplaudiu, como Amy Winehouse. Perdemos gente sóbria que o mundo não era digno de tê-los, como Wilkerson e Stott. A estes últimos, quem os reporá?

Assim, dois mil e onze se vai. Olhando para tudo o que aconteceu, vejo a boa mão de Deus e a Sua mente soberana coordenando cada acontecimento. Aos cuidados do Senhor me ponho, e anelo a chegada deste novo ano. Os Maias disseram que o ano que está por vir será o último da existência humana. Aos que acreditam, sorte. Contudo, não procrastinarei. Vivendo o hoje e planejando o amanhã sigo, com uma viola qualquer, um Drummond no pensar e um café, bem quente e coado, por favor!

Um novo ano de paz para você!

Cleison Brugger.

24 de dezembro de 2011

Mais que nascimento, REDENÇÃO!

"Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o SENHOR" (Lucas 2.11).
 Nunca, em nenhum momento da história, o nascimento de alguém fora tão aguardado e esperado. Séculos antes de seu nascimento, já havia sido profetizado o local em que ele haveria de nascer (Mq. 5.2), já havia sido predito que uma virgem lhe conceberia e seu nome seria Emanuel ("Deus conosco" ou "Deus entre a gente", Is. 7.14). De fato, Jacó disse a Judá que o reinado estaria em suas mãos, "Até que viesse Siló" (Gn. 49.10), ou "aquele a quem, de fato, pertence o governo". Embora Davi fosse da tribo de Judá, viria um, também desta tribo, mais excelente que Davi. Quem seria este? Lucas, na narrativa do cap. 2, declara: "Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor". Este que estava nascendo, o Cristo, era o cumprimento da profecia de Gênesis 3.15, em que Deus diz que, da semente da mulher, viria um que feriria a cabeça da serpente, isto é, a Satanás. De fato, o Cristo veio para assumir o reinado; Ele é o "Leão da Tribo de Judá" (Ap. 5.5).

Mas o ponto onde muitos erram, é prender o Cristo para uma época específica, um lugar específico, um advento específico. É importante celebrarmos o nascimento de Cristo, mas o que não podemos fazer é limitá-lo a este evento. Ele não veio apenas para nascer e ficar mundialmente reconhecido porque uma estrela pairou sobre o lugar onde ele havia nascido. Pelo contrário, o nascimento é o começo da mais importante história da humanidade. É o início de um grande acontecimento que, ainda hoje, afeta a maneira como vivemos, pensamos e cremos. No nascimento começa, não termina.

A grande verdade é que, naquela noite, no pequeno vilarejo de Belém Efrata, Deus estava enviando Seu Filho. Cristo, o Filho de Deus, estava vindo à terra em condição humana. Em Filipenses, leremos que "embora sendo Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas rebaixou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um Nome que está acima de todo o nome, para que, ao Nome de Jesus, se dobre todo o joelho e toda lingua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai" (Fp. 2. 6-11). Esse é um dos textos mais impressionantes e maravilhosos do NT. De fato, Cristo veio ao mundo: 1) glorificar o Pai; 2) satisfazer a justiça de Deus; 3) salvar homens pecadores (eu, você, nós!) 4) reconciliar-nos com Deus 5) Livrar-nos da justa ira de Deus etc. O Filho de Deus fez-se homem (gr. Teantropos, Deus e homem, numa mesma substância), a fim de redimir os que estavam em trevas e trazer para sua maravilhosa luz.

Por isso, que o Natal sirva para que você, ao olhar para a manjedoura, consiga fitar seus olhos diretamente na cruz. A manjedoura existe por causa da cruz, e não o contrário. A morte é, sem dúvida, mais importante que o nascimento, mas consideramos que, sem nascimento, não haveria sequer morte. Por isso, comemoramos  a ENCARNAÇÃO de Cristo (esse é o real motivo de comemoração dos critãos), pois ao vê-lo nascendo, percebemos que Ele nos amou, pois "fez-se semelhante aos homens, e achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz" (Fp. 2. 7-8).

Que o Cordeiro que foi morto receba a recompensa de seus sacrifícios. Solus Christus!

Feliz Natal com Cristo,
Cleison Brugger

9 de dezembro de 2011

Dezembro

Imagem por Gregory Rocha

Dezembro é um mês incomum. É o único mês do ano que as pessoas aparentam estar alegres. Digo aparentar, pois os pisca-piscas coloridos nas árvores e fachadas, os shoppings decorados e as lojas abarrotadas dão a entender que as pessoas estão felizes e que o mundo está melhor. Ledo engano.
Alguns vão às compras só por inveja, outros porque já é de praxe. Algumas pessoas ficam mais sociáveis no mês de dezembro, só pra que o "feliz natal" e "feliz ano novo" não soe muito falso e a consciência não fique martelando. A verdade é que chega dezembro, mas as amizades falsas continuam, os assassinatos também e a morte não tira folga. Ninguém muda em dezembro. Desafio você a, pelo menos, lembrar das coisas que você prometeu fazer dezembro passado. Bem, se você não lembra, quanto menos cumprir o que prometeu a si mesmo (ou a outrem). Decerto, dezembro não é um mês mágico.

Mas, de fato, não é o pior do meses. Talvez seja o melhor dos doze. É em dezembro que fechamos pra balanço, que fazemos projetos (por menores que sejam) para o próximo ano (coisa que não fazemos nos outros meses). É em dezembro que a ficha de que o ano está findando e você não fez metade do que deveria, cai. Dezembro é pura melancolia à noite, como também, é pura correria ao dia. Em dezembro, temos que ter cuidado ao dar a desculpa: "deixa pro ano que vem...", pois o ano que vem, vem logo ali. É em dezembro que bate o desespero: "como será o ano que vem? será que eu caso, fico rico(a), escrevo um livro, bato as botas...?". É em dezembro que as coisas precisam se acertar.

Dezembro é o resumo do trabalho, é a conclusão da redação. Dezembro é o mês em que olhamos para trás e não lembramos nem quem fomos em janeiro. E, para cunho meramente informativo, dezembro é o único mês que, ao mesmo tempo, está perto e distante de janeiro. É, de fato, um mês confuso. 

De fato, as pessoas esperam que o ano que está para vir, seja melhor que o ano em que estamos. Você já pensou na possibilidade de que, todo ano, sempre pensamos assim? nunca está bom o suficiente! Mas, na verdade, enquanto nós esperamos que o ano que está por vir seja melhor, o ano que vem espera que nós é que sejamos melhores. Querer que o ano mude é interessante, mas o dever de mudar é nosso. Jocosamente, parece que é intrínseco ao humano: até quando as coisas não vão bem, a culpa é colocada no lombo do ano que está, dizendo que o ano foi péssimo e que o destino lhe estava virado. Ora, vire homem e assuma seus erros. As coisas não foram bem, porque você não foi bom o suficiente para mudar as coisas.

Então,  o conselho nesse dezembro é o que vem a seguir: quando as taças, no ano novo, estiverem para brindar  e alguém propôr: "vamos tomar champagne pra comemorar?", diga pra quem propôs: "que tal, antes do champagne, tomarmos tenência, a fim de que não comemoremos apenas o hoje, mas também, os próximos dias que teremos que viver?"

Talvez você seja odiado na festinha e ninguém te dê presente, mas dê de ombros. Essa festinha tem todo dezembro, e o outro dezembro daqui a pouco está chegando, novamente.

BRUGGER, C.

23 de novembro de 2011

Apatia

Sentado a respirar, penso. Pensando em sentar, respiro. Respirando e pensando, sento.

"-O que tens?", pergunta o passante. Não sei bem. Uma mistura de dias escabrosos, noites em claro, tardes chuvosas e flores sem cheiro. "-A vida como um todo anda tão sem cheiro", comenta o passante. Concordo. Parece que as raças perdeu, cada uma, sua cor. De pele negra, branca ou parda, tudo o vejo é preto-e-branco. Perdeu-se a cor. Perdeu-se o cheiro. Perdeu-se o sabor.

"-O sabor de quê?", pergunta o passante. Da vida, das coisas, das pessoas. Vivemos dias em que gostoso e delicioso têm conotação pejorativa, enquanto antes, estes vocáculos eram empregados para expressar um dia bem respirado ou um bebê de meses, com a bochecha rosada.

"-O que mudou?" questiona o passante. Não vês? és de outro mundo? não sabes o que mudou? você, eu, a vida! Respiramos ofegantes, parecendo que estamos vivendo obrigados. Para muitos, acabou-se o prazer. Quem come jamelão, faz cara de que comeu algo azedo. Quem come marmelada, não mais se lambuza, pervertendo o ditado. Quem ri para alguém, corre risco de morte, pois o alvo do riso, achou que o outro riu de deboche. Tudo mudou, passante, tudo!

"-E o que esperas?", me diz o passante. Espero que este Augusto dos Anjos saia de mim! tenho visto tudo tão dramaticamente. Mas não sem razão. As coisas têm me levado a estes caminhos. Por um pouco, e já chamo o doutor para cortar minha singularíssima pessoa!

"-Sorte na vida!", deseja o passante, despedindo-se. Espera, passante! nem mesmo um café? o colóquio foi tão seco... Ora, nem mesmo o passante suportou o gosto da minha aridez. Decerto, ele é igual a todo mundo. Sem cheiro, sem sabor, sem cor. Que se vá! Augusto, não atente para o que escrevi acima, e fique mais um pouco.

BRUGGER, Cleison.

20 de novembro de 2011

Erros

 O homem tenta, mas não consegue.
Tentando fazer rir, consegue fazer chorar.
Tentando acertar, consegue errar, e feio.
Tentando consertar, acaba por arruinar.
Tentando reunir, acaba espalhando.
Tentando dar amor, acaba machucando.
Tentando dar alento, acaba enraivecendo.
E mesmo sendo calmo, consegue ser um tormento.

Do que o homem é feito, minha gente?
Quais ingredientes o compõe para que ele seja assim?
Imperfeição é um deles, de certo.
Essa natureza caida, que de boa nada tem.
O homem é ruim, mau, desastrado até no que é e no que faz.
E no tentando ser gente, acaba sendo monstro.
E no tentando ser gentil, acaba sendo grosso.
E no tentando sorrir, acaba por fazer careta.
Seria jocoso, se não fosse tragédico. Ou vice-versa, não sei.
Só sei que, de vez em quando, esse "tentar" do homem dispõe um riso,
mas em outras vezes, dá uma vergonha que, se pudéssemos, viraríamos pó.
Aliás, é o que somos. Pó é nossa estrutura. Isso me acalma um pouquinho.
Lembrar que não somos de bronze, chumbo ou algo do tipo, me dá um certo alívio que diz: "seu material não é lá essas coisas pra você ser o supra sumo da perfeição".

Nessa vida, errar é normal, desde que o erro não seja planejado.

Cleison Brugger


17 de novembro de 2011

Só um é amor. O resto é conversa.


 É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chopp é gelado. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário, quando se vê de vez em quando. 
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado. Nessas horas é que se vê o verdadeiro amor, aquele que é companheiro, que quer o bem acima de qualquer coisa. E é esse o amor que dura pra sempre. Na verdade esse é o único que pode ser chamado AMOR!

Ana Jiácomo

27 de outubro de 2011

Um pouco de cada fase.

- Você mudou!, diz alguém, sorridente, olhando seus cabelos.
- Você mudou, diz outro alguém, este cabisbaixo, tentando não chorar.
Mas, a bem da verdade, o que dizes de ti mesmo? mudaste, de fato? se sim, com exclamação ou sem? (se não entendeu, perceba a diferença das frases que, acima, aparentam ser iguais).

Vivemos mudando, uns pra mal, outros pra bem, mas mudar é inevitável. Vivemos num mundo onde lagarta vira borboleta, onde gente nasce sem dente, cresce e com ele os dentes e quando está pra morrer, cadê os dentes? se foram de novo! As coisas mudam, o tempo passa, a vida é breve!

Certo dia, ouvi de alguém: "você mudou, não é mais o mesmo". Bem, como dito acima, dependendo da perspectiva, pode ser tanto uma crítica como um elogio. Mas fui sábio o suficiente para discernir o que era, de fato. Depois dessa constatação, que eu mesmo já havia feito antes, fiquei numa linha tênue, entre o ir e o voltar: não sei se volto a uns quatro quarteirões e tento achar quem fui e hoje deixei de ser ou se continuo andando, e por conseguinte mudando, até achar quem realmente sou. Há momentos, que me acho completamente formado, mas não demora muito e me sinto completando imaturo. Não sabemos o que somos, não sabemos quem fomos, só sabemos que mudamos.

Olhamos aquela nossa foto, antiga coitada, e constatamos aliviados: - Graças a Deus, eu mudei! Mas então vem a consciência, não sei se pesada ou leve, não sei por quem enviada, e nos questiona: mudastes pra mal ou pra bem (dizer só da aparência não vale!). E seu sorriso, mudou? aliás, seus motivos de sorrir, mudaram? mais aliás ainda, sua vida, como está? tem gente que muda tanto, que chega num estágio de 'evolução' que se fizerem um antes e depois dela, diriam: é impossivel que ela tenha sido assim pra chegar a ser o que é hoje!

Que a vida mude, não eu. Quero ter um pouquinho de mim ao passo que eu for crescendo. Para ser mais poético (ou coerente, sei lá), quero um pouco de cada fase. Quero ter o sorriso da criança que fui (só pode escolher uma coisa?), a subversividade da adolescência, a facilidade do amar da juventude, a seriedade da vida adulta e da terceira idade... quando eu chegar lá, digo o quero dela.

BRUGGER, Cleison.

13 de outubro de 2011

Olhem para as crianças.

Uma angústia no íntimo. Um desejo de abandonar as afeições. Não suporto o fato de maquiar tristeza com um sorriso. Se você é falso a este ponto, parabéns! só um grande artista consegue esta proeza. Ultimamente, meus pensamentos têm entrado em conflito. No que crer, no que ser, como ser... o que amar, a quem amar, como amar...

Sinto falta de atos. Cansei das palavras. Nossa gente fala demais e isso me dá náuseas. Ao invés de dizer amor, porque não amar sem dizer? ao invés de dizer por trás, porque não damos as mãos e dizemos: "não me importa suas falhas, pois também as tenho, talvez mais que você"?

Na verdade, o que sinto é carência. Carência de sinceridade. Hoje tudo é tão falso, que de vez em sempre me convenço que o planeta em que vivo é postiço. Há tanta superficialidade, tantos risos na fronte e tanto ódio por detrás... e o pior é que quem faz estas coisas não é um cara que você conhece de vista, mas muita das vezes amigos, pessoas que você estima acima de qualquer suspeita. É estranho viver num mundo onde os semelhantes se acham superiores. É difícil viver numa esfera de indiferença e falsidade, quando as pessoas se parecem e a única coisa que os diferencia é a cor. Temos a mesma origem. Temos um mesmo destino. Todos viemos de ventres maternos. Todos iremos ao seio da morte.

Já parou para pensar que as coisas que julgamos boas, às vezes cansam? afagos cansam, elogios cansam, abraços cansam, rir cansa, palavras cansam. Mas o que não me cansa é a sinceridade. Pois para mim (e, creio, para você) afagos sinceros, elogios sinceros, abraços sinceros, risos sinceros e palavras sinceras jamais cansarão. Percebe que se as coisas fluirem pelo canal da sinceridade, as outras coisas poderão não ser tão intediantes como, por incrível que pareça, podem vir a ser?

Por isso gosto de crianças. Elas são sinceras. Um riso de criança é bonito (mesmo que faltem os dentes da frente), porque é sincero. Dá prazer de ver crianças brincarem porque há sinceridade. Me emociono com um beijo um ou abraço de uma criança, porque é a forma mais autêntica de sinceridade. Não é à toa que o Mestre ensinou: "sejam como crianças, elas têm muito a ensinar a vocês, raça de víboras!", que destilam veneno pelo prazer, sem se importar se a presa viveu ou morreu. Que tempos os nossos!

BRUGGER, Cleison.

7 de outubro de 2011

Em um minuto.

Em um minuto se nasce, em um minuto se morre. Em um minuto, se escreve um poema. Em um minuto, se projeta um esquema. Há um minuto atrás, tínhamos um presente que virou passado. O próximo minuto que vem, é um futuro que de teimoso tornar-se-á presente.
Em um minuto, posso te fazer sorrir. Em um minuto, consigo te fazer chorar. Basta um minuto, para que tudo dê errado. Aguarde um minuto, e as coisas podem dar certo. Percebeu que na frase "Em um minuto", aparecem três Emes? pois bem, detalhes se percebe em um minuto. Quanto tempo, de brincadeira, você ficou sem respirar? digo por mim, não passo de um minuto. Em um minuto, rico se faz pobre. Em um minuto, pobre se faz rico. Em um minuto, brincadeira pode levar à morte. Em um minuto, uma desavença  pode ser apartada e resolvida. Em um minuto se conquista um amigo. Em um minuto se faz um inimigo.
Em um minuto conseguimos ferir um coração. Também em um minuto, pode sair da boca a frase: "te peço perdão". Em um minuto, se arraiga o ódio. Em um minuto, se dissemina a alegria. Quando se faz o que se gosta, um minuto é muito pouco. Quando fazemos o que odiamos, eternizamos um minuto. Para se levantar da cama, como valorizamos um minuto! para se deitar com insônia, um minuto é um suplício.

Festejamos, ano a ano, nossos aniversários. De ano em ano, somamos um ano a nossa vida. Mas não vivemos de ano a ano, mas de dia a dia, ou mais precisamente, de minuto a minuto.  Um minuto parece pouco para resolver toda uma vida? diga isso para a morte, que num minuto desses qualquer, baterá a nossa porta. Tenho a forte impressão de que quem negligencia seus minutos, ainda não aprendeu o que fazer com sua vida. Não sabem esses de que apenas um minuto é necessário e, geralmente, decisivo. Em um minuto se decide o que em um ano não seríamos capazes de decidir.

BRUGGER, Cleison.


3 de outubro de 2011

Girassóis.

Quando girassóis murcham, é sinal de que o Sol não veio. É sinal de que não comtemplaremos sua plenitude.
*
O aspecto dos girássois, em dias escuros, não é tão belo quando se tem o calor do Sol. Sua aparência é cálida, inexpressiva... eles murcham porque o dia não lhe trará boas surpresas. Os pássaros não cantarão a melodia com tanta alegria, como o fazem ao contemplar o resplendor do Sol.

Quando não se tem o Sol, os girassóis, murchos, viram a cara, olham para o oriente, escondem-se  do lugar donde o Sol se põe. Muito embora, de vez em quando, olhem para cima nos montes, no afã de receber algum tipo de atenção daquele que não veio.

Por todo o dia eles sentem a brisa, e em dias nublados sentem da chuva, mas não podem sentir a alegria de olhar para Sol e contemplar sua majestade. O Sol para eles é refrigério, é proteção, é carinho, é cuidado, é atenção! Existe uma reciprocidade única! Por todo o dia, eles se entreolham, e no cair da tarde, existe a mais sublime forma de despedida, findando assim, um dia repleto de afetos.

Mas a esperança dos girassóis que, por estarem sós, também estão murchos, é o dia seguinte. Nem o sereno da noite, muito menos o orvalho dos horários extensos podem acabar com a esperança dos girassóis de ver raiar mais uma vez o Sol. E no começo do dia, sei, com muita alegria, os girassóis despertam. E olha, quem lá está! o Sol, ele que alegria dá aos girassóis que outrora estavam murchos.

E assim, no raiar de um novo dia, começa, com muita euforia, os pássaros a cantar a melodia de um cântico novo. E os girassóis, que murchos antes estavam, agora, alegres pelo nascer da manhã, recebem, mais uma vez, afeto e carinho, daquele que para eles, é o quadrado perfeito da criação: O SOL.

BRUGGER, Cleison

22 de setembro de 2011

Idílio.

Noites vêm, noites vão e ela não sai das minhas lembranças. Ela quem, pergunta o inchirido? quem eu (ou tu) achar por bem ser. De fato, nem tudo o quero, possuo, como nem tudo o que possuo, desejo, de fato, ter. Há coisas que precisamos ter e não temos nem um bucado, nem uma gota sequer pra sanar a sede, mas aquilo a qual não precisamos ter, isso temos a flux.

Sim, afirmo que preciso de amor. Leia bem, preciso de amor, não um amor. Não quero dizer com isso que fiz o voto do celibato, mas quero asseverar que de nada adianta ter um amor, se não tenho o amor. Como amar sem amor? seria como saciar a sede numa fonte que há muito secou-se. Aliás, nesses tempos de estranheza quanto ao tipo humano e incertezas do quem é quem, há tantos corações onde a fonte do amor se secou, que para os tais amar é somente (e apenas) um verbo transitivo direto.

Na verdade, preciso de um amor idílico, bucólico, juvenil, suave. idílico no dar e ter de volta, bucólico por me fazer lembrar das flores, juvenil por me fazer saber o que é a vida e suave, por me fazer ouvir, mesmo sem ter musica, sustenidos e bemóis. Quero amar e saber o porquê estou amando. Quero reciprocidade, dar e receber, numa mesma sintonia. Quero um amor poético, que me faça suspirar, devanear, sonhar, fantasiar. Dançar uma melodia, bailando, eu comigo mesmo, ou eu com a morena que mora na rua das margaridas, ou eu com a chuva do veraneio. Não importa com quem. O que importa é estar acompanhado.

Portanto, pode-se perguntar: "queres se enamorar?" talvez. "Queres uma paixão?" aceito, certamente. Mas não quero me enamorar e ter uma paixão apenas com alguém, mas com alguns e também com coisas. Quero rir da e com a vida. Quero escrever poesia olhando a chuva; quero sentir uma nortada e saber que sou querido; quero esquecer-me de mim e lembrar que, se eu der amor, serei retribuido, quer com abraços, quer com carinhos, quer com um simplório sorriso.

BRUGGER, Cleison.

9 de setembro de 2011

Prazer e ódio.

Satânico é o meu pensamento a teu respeito e ardente é o meu desejo de
apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me
fizeste ontem.

A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando,
sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu
corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos
lugares. Eu adormeci.

Hoje, quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós
ocorreu durante a noite.

Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando
chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas
as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do
teu corpo.

Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito desgraçado*!

Carlos Drummond de Andrade

28 de agosto de 2011

Se foram.

Sabe da tia Laudilina? então, partiu.
Sabe do menino com o qual se brincava na rua?
pois bem, cresceu e foi trabalhar.
Sabe do armazém da esquina no qual se comprava besteiras?
faz um tempo, se fechou.
Sabe daquela roupa, com listras azul e vermelho, que tanto gostava?
por descuido, rasgou-se.
Sabe daquele dia em brincamos de esconder entre as plantas do quintal?
então, ele não voltará.
Sabe do dia em que, voltando do colégio, sentamos na rua e sentimos da chuva?
que lembrança, não?
Sabe dos amigos que antes estavam e agora se foram?
lembranças deixaram e lágrimas também.
Sabe do sorriso e gargalhadas que dávamos com eles?
certamente, não são os mesmos hoje!

Tanta coisa se foi, tanta lembrança ficou e tanta saudade deixou...
Na verdade, quem os deixou ir? quem deu permissão para que se retirassem? Ora, não me despedi adequadamente. Faltou dar um adeus bem dado, um "obrigado por tudo" e um abraço acalorado.
Agora, o que restam são lágrimas e lembranças. Ah, e um futuro, que me traz a esperança de rever os que partiram e chorar lágrimas de alegria e nostalgia.
Vida, breve vida.

Cleison Brugger

25 de agosto de 2011

O rosto de Deus


  "Faze com que a luz do teu rosto brilhe sobre nós" - Salmo 4.6b

O rosto de Deus reflete glória, majestade, beleza, esplendor, bondade, magnitude, amor, mas também reflete ira, furor, ódio e impetuosidade, tudo isto numa mesma intensidade. Se o amor de Deus é plenamente abundamente, também o é sua ira; se a afeição de Deus é perfeitamente ampla, também o é seu furor. Quando as Escrituras dizem que "Deus é amor" e que  "Deus é ira", está nos mostrando que Deus é plenamente abundante em todos os seus atributos. Deus não é mais amor do que ira e vice-versa. Se Deus é perfeito, então todos os seus atributos também o são, sem tirar, nem por. Só existe uma diferença entre um e outro: o Seu amor dura para sempre (Sl. 136.1), mas a Sua ira, dura só um momento (Sl. 30.5). Contudo, a mesma disposição que temos em receber o amor do Eterno, não tenhamos em receber Sua ira. Tal qual um Sol que da calma manhã até o crepúsculo do dia, raia com sua imponência, assim é o amor e a ira de Deus: faz toda a diferença se você sente o raiar do Sol às 9 da manhã, do que às 3 horas da tarde. É o mesmo Sol, numa mesma intensidade (ele não é mais Sol à tarde do que de manhã), só muda o período.

Enquanto pecadores e, por natureza, filhos da ira (Ef. 2.3), o nosso clamor a Deus é: "esconde a tua face dos meus pecados" (Salmo 51.9b), pois "o rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal, para apagar da terra a memória deles" (Sl. 34.16-NVI) e ainda "os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações; Mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal" (IPd. 3.12). A face do Senhor é santa e, por esta razão, o pecador não consegue olhar para ela. Diante da face do Senhor, os homens tremem (Ez. 38.20).
Mas quando somos atraídos a Cristo pelo Pai (Jo. 6.44) e, assim, cremos e confessamos acerca de Jesus: " Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" ( Mt 16.16), o Espírito Santo comunica ao nosso coração para que possamos ter condições de olhar para a Face de Deus: "Quando tu disseste: Buscai o minha face; o meu coraçäo disse a ti: A tua face, SENHOR, buscarei" (Sl. 27.8).

A partir disto, passamos a ter prazer na santa face de Deus e conseguimos olhar para ela, pois para os salvos "na luz do rosto do rei está a vida" (Pv. 16.15) e, por isso, clamamos como Davi: "faze a luz do teu rosto brilhar sobre nós" (Sl. 4.6b), pois da luz do rosto de Deus emana vida, glória, graça, beleza, virtude e tudo o que é santo, bom, belo e agradável.  Assim como a intensidade do Sol é a mesma, mas fará diferença se olharmos para o Sol às 7 da manhã e às 3 da tarde, assim a intensidade do rosto de Deus é a mesma, mas enquanto os pecadores dizem: "afasta de nós o Teu rosto", os santos clamam: "faze brilhar sobre nós a luz da Tua face". O sol é apenas uma pequena faísca comparado ao brilho do nosso Redentor.

"E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece" (Ap. 1. 13-16).


Preparemo-nos para encontrá-Lo face a face (ICo. 13.12), tal como Moisés O viu (Ex. 33.11).


Cleison Brugger

20 de agosto de 2011

Eu quero ser feliz agora(!) - Oswaldo Montenegro

Ouça esta bela canção metafórica do cantor, compositor e poeta Oswaldo Montenegro. Vale muito a pena ouvir. Na minha opinião, é claro.



Se alguém disser pra você não cantar
Deixar seu sonho ali pro um outra hora
Que a segurança exige medo
Que quem tem medo Deus adora
Se alguém disser pra você não dançar
Que nessa festa você tá de fora
Que você volte pro rebanho.
Não acredite, grite, sem demora...

Eu quero ser feliz Agora

Se alguém vier com papo perigoso de dizer que é preciso paciência pra viver.
Que andando ali quieto
Comportado, limitado
Só coitado, você não vai se perder
Que manso imitando uma boiada, você vai boca fechada pro curral sem merecer
Que Deus só manda ajuda a quem se ferre, e quando o guarda-chuva emperra certamente vai chover.
Se joga na primeira ousadia, que tá pra nascer o dia do futuro que te adora.
E bota o microfone na lapela, olha pra vida e diz pra ela...

Eu quero ser feliz agora

Se alguém disser pra você não cantar
Deixar seu sonho ali pro um outra hora
Que a segurança exige medo
E que quem tem medo Deus adora
Se alguém disser pra você não dançar
Que nessa festa você tá de fora, que volte pro rebanho.
Não acredite, grite, sem demora...

Eu quero ser feliz Agora

13 de agosto de 2011

Vida no sertão

Eis que ela vem e logo perdemo-la ali. Eis que ela vai e brevemente virá em regresso. Dizem por ai, mas precisamente pelas campinas de Araxá, que essa tal é a última a ser morta, embora poucos já viram, um dia, essa bendita morrer. Uns dizem que constataram sua morte na rua dos conselheiros, mas provas do fato não há. Outros dizem que poucos dias depois de ter sabido da  morte da dita cuja, a viram perambular pelas ruas do sertão. Se morre, não sei, mas que vive, é indubitável.

A vida no sertão é difícil. Marias e Severinas com seus bacuris no colo, magrelos, famintos, com bicho do pé e barriga d'água. Sentadas na soleira ficam, esperando os Joãos e Josefos chegar. Embora a notícia de antemão se anuncia (por horas labutei / descanso não encontrei / fartura também não achei), elas ficam lá sentadas, junto com a maldita que nunca morre e só serve pra remoer as emoções mais do que abaladas pela tragédica realidade que ali se passa.
Ora, esperança, não vês que aqui não tens lugar? Olha ao teu redor, esperança, vês se há condições de, nesta cena, atuar? há crianças famintas, mães que choram, homens tristes e animais semi-mortos, e porque tu ainda vens, criando no coração dessa gente um sentimento de que "as coisas podem sim melhorar"?

Enquanto a maldita esperança arruma as trouxas para dali arredar o pé, uma mãe grita da porta, com seus olhos fundos, mas convictos, dizendo algo assim: "Vai não, esperança, fica! há vida no sertão. Os meninos me disseram que, embora a fome exista, há vontade de viver. Eu, que embora entristecida, fatigada e em farrapos, sei que se tu for embora, ai mesmo jeito não teremos!" no que diz a esperança: "Ora, mas não achas que só sirvo para iludir-vos?", no que, sem tempo, é objetada: "Nada disso, esperança! é contigo que, de manhãzinha, na minha reza a Santo Alguém, me apego com firmeza, olhando para o meu ontem, lembrando das aflições e olhando para o meu hoje, vendo pela janela que o Sol voltou de novo e acreditando que neste dia novo, as coisas podem dar certo e os meninos podem viver mais um bucado".  

Cleison Brugger

11 de agosto de 2011

Simples, mas solene.



E numa tarde chuvosa, coisas normalmente insistem em vir à memória – coisas boas e ruins. Interessante é que mesmo que não as queira pensar, tais lembranças estão ali batendo à porta da memória para enfim vir à tona.

Lembranças... São muitas das vezes incoerentes, desordenadas e ate fugaz. E seja olhando a chuva cair lá fora, andando na rua, escutando músicas antigas, olhando um retrato na estante ou apenas em lugar qualquer com os olhos fechados, elas aparecem. E aquele clima meio que etéreo trás consigo a capacidade de te arrancar lágrimas – sim, arrancar. Porque elas caem sem que mesmo tenhamos dado permissão.

De repente, acordando sem mesmo ter cochilado. Olhamos além da janela e percebemos que a chuva simplesmente deixou de dar o ar de sua graça e observamos assim o crepúsculo deixado por ela. E tal cena imediatamente busca lembranças de um verão com amigos, de um café da tarde admirando o sol sentado na varanda, da saudade de quem namora ou ate da vontade de ver quem se enamora.

Lembranças vêm e vão a todo o momento. A questão é que nem sempre estamos atentos a elas. Que é preciso que a vida nos dê uma tarde chuvosa ou um crepúsculo para que possamos ter a gentileza de atentá-las. É necessário perceber a importância de cada lembrança e o que cada uma em sua singularidade ensina, faz sentir, deixa saudade e mostra a falta de algo, mesmo que outrora não fosse necessário e que hoje é preciso.


Seja sensível à pequenas coisas como, simples lembranças!


Anne Albuquerque

8 de agosto de 2011

Você é o melhor que nós temos

Inegavelmente no dia 09 de agosto do ano de 1991, no horário de 12h05 da tarde, foi dada à humanidade uma dádiva. Pensada, criada e elaborada por Deus, que ao pensar em criar já sabia como seria, quais as obras e missões lhes daria, quais os dons e talentos derramaria naquele ser, que viria para iluminar a vida de muitos. E assim Ele o fez: pensou, criou e eis que nasce Pâmela Marques. Criada para crescimento de sua obra.

Privilegiados são os que podem conviver e conhecer. E aos que já a conhecem, amar e admirar são conseqüências.

Quando o assunto é amizade – um de seus dons mais lindos – isso mesmo ela tem o dom da amizade. Cada amigo tem momentos como filho, irmão e pai dela ao mesmo tempo, tornando-se assim da família. E é incrível como sempre cabe mais um.  Ela aconselha, diz palavras bonitas, mas também repreende e é assim que ela mostra seu amor, ela briga e logo está as mil maravilhas, ela quer sempre estar sabendo das coisas para ajudar ou, simplesmente, para se alegrar e é importantíssimo que seja assim.

Ela tem um jeito só dela, meio durona e ao mesmo tem doce, tão doce quanto o significado do nome dela – doce como mel – Mas só os que a conhecem de verdade conseguem enxergar o lado doce dela.

Por fim, concluo que é impossível conhecer Pâmela Marques e não se apaixonar por essa menina em momentos de brincadeira, adolescente quando chora sem saber o motivo, mulher quando mostra o quanto é decidida e varoa quando usa seus dons para o crescimento do Reino de Deus. É meu caro, impossível não se apaixonar.

A você, nosso PARABÉNS!
É fato que amamos você.

Anne Albuquerque

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MENINA-MULHER

Nasceu, como todo ser deve nascer. Imagino: pretinha, de olhos brilhantes e com uma bela missão. Já na maternidade, berrando, escutava-se nos corredores: "ouça o choro da menina, que há pouco instante nasceu. Já no choro, ouve-se o timbre, o ressoar da voz do grande Deus".

Já nascida, já menina, já grandinha, já brilhava. Pela raça, pelo timbre, pela vida, era doce. Marrentinha, voz potente, olhos firmes, inegável era que seria alguém importante, mulher decidida, menina constante.

E olha quem hoje se vê: uma mulher. A mesma que outrora se antevia. Conquanto seja menina em alguns momentos, isso mostra sua sensibilidade, sua mulher exterior e sua menina que ainda chora no canto do quarto. Uma mulher que faz planos para o casamento, mas que ainda escreve em diários. Que canta, sorri, não obstante ainda chore e sinta insegurança. Embora não viva de utopias , vez ou outra, de olhos fechados, está ela sonhando com alguma estória que comece com "era uma vez" e que termine com "felizes para sempre".

Ela vive, e com ela, muitos outros. Se chora, os outros choram. Se ri, os outros riem. Se vai, os outros levam. Se vem, os outros trazem. E algum desavisado poderá ler e perguntar: "o que seria isso?". Filhos, amigos, irmãos, não sei bem. Só sei que são pessoas dependentes, tal qual passarinho no ninho, esperando sua mãe retornar. Pode soar exagero, mas quisera eu que fosse! somos todos, amigos, dependentes do abraço, do sorriso, dos conselhos, da pessoa.

Hoje, ela completa mais um ciclo. A mesma menina pretinha que nasceu, conosco está, cantando e encantando, tal qual a primeira vez que foi vista na maternidade. Deus, por graça, deu-nos um anjo, e como anjos são eternos, que bom é saber que todos nós, amigos (remidos em Cristo), passaremos a vida aqui e acolá, bem junto dela.

Cleison Brugger

Adiaforia.

Vez ou outra, me pego apegado ao supérfluo
Quase sempre, estou agarrado ao fugaz
Tendo em vista que desta vida nada levo
Sim, me apego ao que a vida sempre traz.

Não, não sou indiferente ao que é efêmero
E certo é que a efemeridade pecado não é
Pecado é deixar passar o que é bom
E os erros que, de fato, controem a vida do jeito que é.

Os que, pomposamente, rejeitam os erros
Não saberá viver de maneira correta
Pois é com eles que aprendemos ter acertos
E é errando que se vive de forma esperta.

Certamente nunca aprenderemos a viver
A cada minuto, nova forma de viver se nos apresenta
Assim, o inusitado sempre nos é mister
Para que se viva de forma boa, feliz e bela.

O escritor, como já deves ter percebido, é péssimo em rima
Mas já que comecei, prometo-lhes terminar
Só venho dizer que vivam a vida
Mas vivam-na toda, até acabar.

Cleison Brugger

31 de julho de 2011

Momentos.

Ultimamente, encontro-me cansado. Cansado das conquistas alheias, dos sorrisos dos outros, da felicidade estampada na cara de todo mundo. Dá a maligna vontade de perguntar: "Pra quê tanto riso? não vês que o mundo chora?"

Cansado de regras, de leis, de decretos. Cansado de tentar ser bom e moralista e cumprir, todos os dias, uma tabela do "pode isso - não pode aquilo". Cansado de rir sem alegria, ou a forçação de chorar quando não se tem lágrima. Cansado de ser bobo. Quero ser mais sério, mais rústico, mais contido. De tão bobo que tenho sido, me pergunto se isto é inerente a mim ou é alguma façanha pessoal que tente me enturmar com o resto do mundo.

Sinto-me cansado de sempre ter que ser o baluarte, a escora dos outros. Quero ser vítima, ter lamentos e chorar. Quero ficar num canto e pensar, prantear por um pouco, mesmo que o motivo disto seja alheiamente incoerente e fugazmente passageiro.

Estou cansado da teoria sem prática, do falar sem viver, das paixões em palavras e da passividade dos atos. Na verdade, muito falo e muito ouço, mas pouco sinto; minha alma se sente pobre de abraço, de carinho, de aperto de mão sincero, de olhares elogiosos ou de gestos que transmitam paz.

Cansado da falsa espiritualidade, da hipocrisia dos risos, da falsidade das gargalhadas e da lascividade dos olhos. Sinto falta da sinceridade, da pureza, da espontaneidade. Muitos têm sido tão outra pessoa, que fico a imaginar quem eles vêem quando se olham em espelhos.

Cansado do monotonismo, daquilo que nunca muda, nem sofre alteração. Porque o ano só tem doze meses? doze é muito pouco! acaba janeiro, vem fevereiro, dá-le dezembro, e vamos tudo de novo, novamente!

Alguém me recomendaria a morte como solução de todo este cansaço. Mas aí, responderia: "Não vês que isso é coisa de momento, que vem e logo passa? não vês que a vida é o melhor remédio para aliviar os estresses que ela mesmo traz? não vês que amanhã tudo pode ser diferente?". Depois de responder a objeção que me foi feita, paro pra pensar na resposta e percebo que, embora tudo o que escrevi é verdadeiro aos meus olhos, isso passa e as coisas podem sim melhorar.

Cleison Brugger

29 de julho de 2011

Si mesmo.


E o meu desejo é não ser o assunto alheio.
E que não fale de mim, mas fale de si mesmo.

Observe a si mesmo, e nesse ato não é necessário que seja observado apenas os defeitos, observe suas qualidades. Veja como e quando você é bom em algo. Mas, claro, com o cuidado de não deixar de ter uma visão de seus defeitos.

Duvide de si mesmo, duvide se seria capaz de fazer alguém sofrer por querer. Seria?

Critique a si mesmo; e isso é importantíssimo, só criticando a si mesmo que é possível ver onde pode consertar afinal você não nasceu com defeitos só para que todos pudessem ver que você não é perfeito, mas sim pra aprender com os mesmos e assim procurar evoluir sozinho.

Ria de si mesmo. Porque não? Rir pra si mesmo é mostrar à vida uma necessidade de ser feliz mesmo que em seu quarto sozinho olhando no espelho. Apenas ria.

Então, seja você mesmo quando estiver chorando, rindo, duvidando e observando. 

E rir meu riso e derramar meu pranto.* 

Anne Albuquerque

*citação de Vinícius de Moraes

27 de julho de 2011

O caminho.

Desde o gênese, fui instado a percorrer um caminho a qual que não precisei de búsula precisa para encontrá-lo, pois eu mesmo o encontrei. Mas não o encontrei por novidade, pois as pisadas que ali estavam eram frescas e incontáveis. A bem da verdade, sinto que fui predestinado para o tal, pois não há atalhos ou caminhos alternativos. Todos devem passar por ali. Desde Adão, o pioneiro do caminho, todo o homem que experimenta nascer passa por ali, inevitavelmente. Como também nasci, passo também por ali. O caminho não é difícil, embora poucos saibam qual destino o caminho dará. Todavia, as notícias que temos daqueles que se desviaram do caminho, dizem que os que lá chegaram, morreram. Mas não há escolha: ou passamos por ali ou persistiremos em permanecer num útero, o que nenhuma mãe que se preze deixará - ela quer mais que saiamos!

Bem na entrada do caminho existe uma porta larga e espaçosa. O convite é um tanto provocante. Ao andar pelo caminho errante, encontro prazeres e sensações fascinatórias. Que bom que minha genitora me expulsou daquele cubículo! ao longo do caminho, encontro flores e fezes, prazeres e pesares, aventuras e desventuras. Não sei o que virá pela frente, só sei que eu quero sempre mais daquilo. "Nunca se satisfaz" é o lema do que percorre o caminho. Mas um dia aquilo enjoa.

Andando melindroso pelo caminho que, outrora tão fascinante, agora tão sombrio, vejo uma placa pequena, de madeira, que aponta para um caminho inverso. O caminho se chama curiosamente "O Caminho". Tento entrar no novo caminho, mas não consigo. O meu EU, irritado comigo, diz que se eu for, nossas relações estarão cortadas, mas a minha alma clama pelo caminho inusitado. Na minha briga comigo mesmo, percebo ao lado um aviso que diz: "Teantropos". Sem saber ao certo o que me foi anunciado, grito bem alto aquele enigma e uma força sobrenatural me puxa para o novo caminho. Sigo em frente. À frente, encontro pessoalmente Àquele ao qual clamei, o Teantropos, o Deus-homem, e a partir dali, não sou eu quem ando apenas, mas Ele comigo. O caminho, diferente do outro que vim, é estreito e cheio de 'não-me-toque'. Não pode isso, não pode aquilo, faça isso, faça aquilo... mas a bem da verdade, encontrar o Teantropos me satisfez plenamente.

Deste novo caminho, há como ver o caminho a qual vim e o seu temido destino: é um portal escuro, com animais sombrios na porta. Aqueles que entram, são imediatamente tragados por toda a eternidade. Para alguns, esse destino é ainda mais horrendo. Mas aqueles que seguem ao Teantropos, seguem seguros, sem medo do que virá pela frente, aliás, se passarmos por algum desafio, o Teantropos passará também, pois não está longe de nós. Até que chegamos, mas o destino não nos é permitido falar, tal qual apocalipse. Só sei que, depois que encontrei o caminho da vida, pude andar seguro ao lado de Cristo, e Este, a me guiar.

Cleison Brugger.

25 de julho de 2011

Hoje, aqui, nasceu uma flor.

Sei que há leitores aqui e não são poucos. Por isso, há a devida preocupação de avisar-lhes que tenho a honra de apresentar a mais nova escritora e administradora do Devaneios. Escrevendo o que sente e vivendo a emoção das letras, ela vem aqui compartilhar o que sente e o que vive. Dando agora um toque de feminilidade e trazendo consigo uma inigualável percepção das coisas, das gentes, das raças e de si mesmo, ela vem até nós trazer o encanto das letras e o fascínio de seu sorriso que, tenho certeza, sentiremos ao ler seus escritos. A partir de hoje, tenho a honra de ter comigo aqui, escrevendo, sentindo, querendo e vivendo, Anne Albuquerque.

Nem todo dia.


Nem todo dia, eu estou bem; mesmo que eu diga que sim.
Nem todo dia, eu quero rir; mesmo que esteja feliz.
Nem todo dia, me sinto amada; mesmo que na verdade eu saiba que sou.
Nem todo dia, eu me importo; mesmo que seja alguém que eu goste muito ou algo desejado.
Nem todo dia, eu estou "zen"; mesmo que eu mostre isso aparentemente.
Nem todo dia, eu NÃO quero briga; mesmo que eu saiba que o motivo é fútil.
Nem todo dia, eu estou simpática; mesmo que as pessoas tentem ser comigo.
Nem todo dia, eu tenho paciência; mesmo que seja com pessoas que me entendem.
Nem todo dia, meu estresse é TPM; mesmo que eu diga: - só pode ser TPM.
Nem todo dia, eu estou romântica; mesmo que ele me traga flores e diga eu te amo.
Nem todo dia, eu sinto falta; mesmo que tenha pessoas importantes longe ou se distanciando.
Nem todo dia, eu escrevo bem; mesmo que seja para escrever de sentimentos para alguém amado.
Nem todo dia, minha tristeza é carência de amigos; mesmo que os mesmos estejam longe e presos na rotina do dia a dia que nem percebam meu semblante triste. 
Enfim, nem todo dia é todo dia.

Anne Albuquerque

15 de julho de 2011

Constatações.

Finalmente, agora é dia; entretanto, a noite já vem.
Finalmente, o Sol raiou; entretanto, a escuridão virá a flux.
Finalmente, o trem chegou; entretanto, já se prepara pra partir.
Finalmente, já cresci; entretanto, ainda brincam com os meus sentimentos.
Finalmente, maduro sou; entretanto, ainda rio com frivolidades.
Finalmente, escrevo poemas; no entanto, ainda penso trivialidades.
Finalmente, não choro por coisas; entretanto, choro por gente.
Finalmente, as flores nasceram; entretanto, virão estações outras e logo morrerão.
Finalmente, a vida é boa; entretanto, a vida passa.
Finalmente, um infante nasceu; entretanto, amanhã é velório de algum alguém.
Finalmente, certo momentos me inspiram; entretanto, certos detalhes me preocupam.
Finalmente, sou um homem dado à integridade; entretanto, surrupio beijos e abraços.
Finalmente, preciso terminar o poema; para tanto, preciso saber como fazer.
Entretanto, se pararmos pra pensar, veremos que o poema tem tantos "entretantos" que os "finalmentes" só viriam pra somar.

BRUGGER, Cleison.

7 de julho de 2011

Conúbio.

Chove lá fora. Aqui dentro, eu e meu amor. O frio, embora intenso, não consegue arrefecer o calor que o lembrar dela me traz. Nesta lembrança, penso voltar a ser infante e viver à puerícia. Ir lá fora, pegar tua mão e dançar um scherzo qualquer. Tu e teu vestido de bolinhas coloridas. Eu e minha vergonha de mostrar quem sou pra ti. Tu e tua pessoa introspecta. Eu e minha angústia de querer saber quem és.

Sabendo que queres ir comigo, te faço um convite um tanto atrevido: "Queres ver a chuva que lá fora cai?". Sem hesitar, sei que aceitarias. Não és moça de desfeitas. Aceitarias movida pelo teu ultraje com cara de ingenuidade.

Já lá fora sentindo da chuva, te convido pra uma dança qualquer. Embora eu saiba que não sabes dançar, te faço lembrar que ainda somos crianças e não precisamos ser mestres naquilo que fazemos. Querer fazer já basta.

Na intimidade da dança, a parte mais íntima do corpo é a cintura, e como é bom saber que só eu - e mais ninguém - é quem pode pegar nestas tuas finuras sem ter de ti um olhar rude. Sei que posso, pois me amas. Sei que devo, pois me queres. Sei que gostas, pois me aceitas. Neste ato, te tenho como minha. Minha posse. Meu latifúndio. Minha rainha.

Já tentando dançar qualquer coisa, tu percebes que o que há são mais do que passos de dança. Tu sabes que te quero - e quem disse que tu não me queres? sei que o teu coração está vibrante, teu sangue ferve e tua alma gélida está. Será a chuva? certamente que não. Até a chuva parou pra olhar a bela cena que se dá naquele quintal, no bairro Jardim Botânico, juntos aos pés de acerola, laranja e manacá.

Num impulso, volto à vida. Deixo a infância com suas lembranças para trás. Sei que não te tenho como antes, com vestidos de bolinhas - variados - ou com aquela face rosada, não obstante, olho para o lado e te tenho aqui, comigo, sorrindo, me amando. Te quis quando criança pra poder te ter agora. Agora que te tenho, o que restam são lembranças.

Cleison Brugger.

5 de julho de 2011

Morreu o assunto.

Como assim "morreu o assunto"? como ele pôde ter morrido, tão inesperadamente?
Sem dúvida, a culpa é tua, homem inconstante que não sabes o que é dialogar.
Que morra tu com tuas ideias nefastas, não o assunto. Que morra tu, com os teus pensares, não o pobre que nada fez, senão tentar resolver nossas discordâncias por meio do embate. Se não sabes o que é assuntar, ou ao menos não sabes que assuntos não morrem tão facilmente, julgo ser melhor para ti o silente silêncio. Não sabes tu, insolente homem, que assuntos não morrem tão facilmente e que discordar é bom pra saúde?
Assim, como então dizes: "morreu o assunto"? ele não pode morrer!
Não o desabone!
Traze-o a vida!
coloquemo-o em pauta!
[e respeite meus imperativos]
Pois se o tal morrer, morrerei eu, pois  pensar sem falar é alarido travestido de silêncio, e este, é prerrogativa infame dada apenas aos sem voz.

Cleison Brugger.

30 de junho de 2011

Conselhos de um velho a um jovem caboclo.

Conselhos de um velho, num dia qualquer de calor, sentado na soleira, olhando o sertão. Embora aparência cálida, tinha fala de fidalgo e pose de sabedor de tudo.

"- Cresce, que é o melhor para ti. Sê tu dono de si próprio.
Deixa de depender daqueles que por ti pouco fazem.
Faze as coisas por ti mesmo. Anda com teus próprios pés.
*
Deixa de lado Zeferina, que mainha já dorme na rede.
Apodera-te da manha do ser e do ter.
Corre atrás do que queres, do que podes, do que te é permitido (ou não)
Pára de rir com o que é fútil. Passa a sorrir um sorriso atrevido.
*
Toma postura de homem. Alarga teus ombros. Amadurece teus olhos.
Pára de olhar para outros pra ver como faz.
Vai, faz o que sabes para que outros parem para te ver.
Sê tu senhor de si mesmo. Dono de teu nariz.
*
Deixa de espreitar meninices. Já cresceste! és homem feito!
Te arruma um amor, de preferência, morena bem apanhada.
Logo após, vê se te rumas para o que nunca deu vergonha a ninguém.
*
Toma consciência do que éras e do que passaste a ser.
Vês que ninguém te engane. Já és homem, moço feito.
Não te apanhes chorando se não sabes viver o agora.
Lembra-te que a vida há de te ensinar, a murros e pontapés.
Saibas que ninguém aprende uma vez pra sempre.
É repetindo os fatos e relembrando como faz, que tomamos consciência quanto ao certo e errado.
*
Vê se te rumas pra frente, nunca pra trás. És gente, não bicho!
Vê se te apegas a uma nega. Não renegue tua raça!
E jamais te esqueças de onde vieste (se te esqueceres, tua pele te mostra)
Sempre te lembres das parideiras, do João-de-Barro nas Palmeiras, do fruto dos cajueiros.
Lembra-te de quando eras mancebo, mas vive a vida que agora tens.
Quem vive de lembrança vê a vida passar, tal qual Sabiá-coleira rumando ao ninho.
*
És moço bom, pacato homem.
Mas sei do touro bravo que pulsa no teu peito.
Não folgues com a injustiça que existe em cada esquina.
Não deixe que te levem a caminhos de novidades.
*
Resolve-te a ti mesmo, caboclo.
Vive tua vida de moço do mato.
Mata a mata da vida difícil.
Cobre teu peito da relva da selva.
Cobre teu rosto da singeleza do sertão."

Cleison Brugger

28 de junho de 2011

Certezas.

Digo, sinceramente, que tentei escrever algo para a presente data, mas não consegui. Na verdade, gosto de escrever para outros; sou um poeta-alheio. Por esta razão, guardo as letras para os 20 anos. E é certo que Mário Quintana, de antemão, escreveu tudo o que eu gostaria, então, faço minha suas palavras de tal forma, que no final do texto leia-se como autor Cleison Brugger.
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Não quero alguém que morra de amor por mim. Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando. Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.

Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim. Nem que eu faça a falta que elas me fazem; o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível e que esse momento será inesquecível.

Só quero que meu sentimento seja valorizado. Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre. E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.

Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.

Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho. Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento e não brinque com ele. E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.

Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe. Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.

Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas. Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.

Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros. Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão.
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim e que valeu a pena.


Mário Quintana.

27 de junho de 2011

Ao amigo, com carinho.

Sei que prometi a mim mesmo não fazer deste blog um espaço para assuntos outros, a não ser os devaneios que me vem a todo instante. Porém, como não sou dado a regras, dou as mãos a excessão, pois é certo que as coisas especiais merecem seu espaço, mesmo que seja para uma breve apresentação.
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"Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará" (Mt. 24,12)
Num âmbito social, certamente o verso em apreço faz muito sentido, visto que, dia após dia, pessoas se entregam ao (des)amor e a (des)humanização. Certo é que, contrariamente, não temos o direito de pensar, já que, um dia dito por Cristo, isto só pode ser a verdade. Todavia, paradoxalmente, as coisas se invertem quando se trata do âmbito divino, e posso dizer que a amizade com Matheus Bastos diz bastante sobre isso.

Meu ciclo de amizade sempre foi volúvel. Nunca fui uma pessoa de uma amizade só, o tempo todo. Ao passar dos anos, tive muitos "chegados", os que eu mais conversava, mais brincava, mais gostava. Mas posso dizer que as coisas mudaram quando, num tempo que não lembro, comecei a gostar da idéia de iniciar uma amizade com um menino mais novo que eu. Na verdade, eu o via mais nas festas do meu primo, e tudo garantia que ele seria um bom amigo para o garoto que morava no prédio ao lado. Contudo, Matheus cresceu, e cresceu muito. Cresceu tanto, que os padrões de meu primo tornaram-se antagônicos e inaceitáveis para ele. "Isso é coisa de criança", talvez pondera-se.

Logo na pré-adolescência, ele se tornou adulto antes do tempo. Adulto mesmo, no pensar, no agir, no ser. Talvez isto tenha iniciado com a perda de algum fundamento importante, ao qual lhe obrigou a se tornar o homem da casa, o chefe de família, menino-adulto. Verdade é que, por trás de todas as coisas, Deus agia nas entrelinhas, preparando bons fins. Enquanto os da sua idade só tinham por preocupação passar de ano, ele já projetava sua futura empresa e seu escritório. Nunca duvidei de seus projetos e sonhos. Aliás, é tão intensa a confiança que ele tem em si mesmo, que nos leva a crer que as coisas certamente acontecerão. A seu tempo, mas virão.

Ao passo que víamos um garoto, víamos um homem. Talvez na indecisão (leia-se amadurecimento) do que ser, optou por seu adulto. Até que, num dia qualquer, nos encontramos. Eu, com minha vontade de amadurecer e ele, decidido a crescer. Em conversas-diversas, vimos que tínhamos coisas em comum: sem amores, com temores, não-doutores, sonhadores. Infelizmente, ainda hoje não consigo ajudá-lo no amadurecimento, visto que não consigo ajudar-me, mas ele, com maestria, consegue auxiliar-me, pois sabe o que é crescer, pois não aprendeu com os livros, mas com os fatos.

Hoje, entendo melhor o que disse o sábio: "existem amigos mais chegados que irmãos" (Pv. 18,24) e o sábio tem razão. Na verdade, Matheus se tornou o irmão que eu nunca tive. As brigas, conversas, brincadeiras e afetos que temos, comprovam isto. Crescemos juntos, cremos juntos (quem sabe, um dia, calvinistas), estamos juntos. Às vezes, brigamos pelo caminho, discutimos trivialidades, conversamos bobagens, não obstante, os assuntos sérios e complexos sejam, geralmente, colocados à mesa.

Assim posto, venho parabenizar o amigo, o caro, o colega, o irmão Matheus Bastos, grato a Deus pela bênção que a nós (muitos outros) foi dispensada e pedindo a Deus que, mesmo nesta época iníqua, o amor, a amizade, os abraços e afetos não se esfriem. Feliz 16 anos, é o que eu desejo.

No amor de Cristo, que fortalece as amizades,
Cleison Brugger.

21 de junho de 2011

Antes do Sol nascer.

Antes do Sol nascer, quero ler poemas vários, para tentar dar alento ao que, em mim, pulsa forte. Antes do Sol nascer, quero sentir um vento fresco, e assim tomar doses de paixão e suspiros, antes da luz chegar. Antes do Sol nascer, preciso ler Baudelaire, cantar com Buarque, sorrir com as flores e sentir com Augusto dos Anjos. Antes do Sol nascer, preciso de alguém aqui - sorrindo, amando, sentindo - sem ter horas para ir, nem momentos para adeus. Antes do Sol nascer, quero ouvir uma canção, que na insistência das notas altas, arrefeça-me a vida. Antes do Sol nascer, quero ver o céu, deslumbrante em seu breu, arquitetado pelas mãos de um Ser superior. Antes do Sol nascer, quero tirar-lhe o véu, desnudar tua face e maravilhar-me à tua formosa pele. Antes do Sol nascer, quero você; Sim, quero você, antes do Sol nascer.

Cleison Brugger.

13 de junho de 2011

A mulher da minha vida.

Não era um impasse. Era apenas um incômodo, um mal-estar. Eu a queria, mas não dava para tê-la. Então, resolvemos ser amigos. Mas a amizade limita os afetos (pelo menos, os que eu queria dar). Os abraços e beijos devem ser comportados. As conversas não podem ser provocantes. A língua limita-se ao falar. Eu queria mais, não apenas um amor efêmero. Definitivamente, não era assim que eu a queria tratar. Na verdade, queria tê-la para mim, como minha, sem restrições, educações ou gentilezas. Se fosse para ter algo do tipo, que fosse romantismo. Pegar na mão, sentir-me dela. Trocar olhares, sentir-me belo à vista.

Contudo, o conúbio soava estranho. Era tão bom estar com ela, mas aquela sensação não parecia oficial. Algo dizia que o encanto brevemente acabaria. E delicadamente acabou. Sem delongas, sem chateações. Acabou porque acabou. Quisemos que acabasse. Não havia razão para continuar. Verdade é que não era uma farsa, mas também não era totalmente verdade. O momento era bom, mas era fugaz. Embora belo, não enchia barriga. Queríamos algo, digamos, mais psicodélico. Perfumado, tal qual manacá-de-cheiro.

E então, num agradável colóquio, despedimo-nos um do outro. Tenuamente, passamos de enamorados para amigos novamente. Na verdade, nada tinha acabado, pois nem mesmo havia começado. Seu abraço, depois disto, foi o mesmo que recebi quando me apaixonei. Sinceramente, ela era a moça mais doce e impressionante que eu havia conhecido. Num beijo de despedida, retirei-me para casa, torcendo para que não houvesse perdido a mulher da minha vida.

Cleison Brugger

6 de junho de 2011

Uma tal Frida.

Frida Maria Strandberg Vingren
Frida Vingren, como era chamada, foi uma missionária que veio, em 1917, para o Brasil, ajudar na implantação das Assembleias de Deus. Em Agosto deste mesmo ano, casou-se com o co-fundador da igreja no Brasil, missionário Gunnar Vingren.
Frida Vingren, embora injustiçada e sofredora, merece lugar na história e lembrança nestes 100 anos. Compôs 07 hinos para a Harpa Cristã e traduziu mais 16. Com a vinda da família Vingren para o Rio de Janeiro em 1924, Frida Vingren mostrou a que veio: pregou, liderou, cantou, tocou órgão e violão, escreveu, costurou, compôs, traduziu, redigiu, ensinou, cuidou da enfermidade do esposo, teve de recuperar-se da malária, esgotamento físico, palpitações no coração e da perda de sua filhinha Gunvor, dirigiu cultos em praças e no presídio e foi, ativamente, uma das líderes da Assembleia em Deus em São Cristóvão-RJ, na ausência do esposo. É incalculável o número de almas que Frida ganhou para seu Senhor. Porém, o machismo nordestino e dos missionários suecos abafou o seu chamado e, por ser mulher, foi posta de lado. Aos 49 anos, no ano de 1940, morreu na Suécia vítima de um câncer, e os portais sempiternos a receberam, guiando-a para o lar celeste. Com tudo isto, hoje relembramos teu chamado e história, e damos valor ao trabalho que ajudaste  a edificar, Frida Strandberg Vingren.

*
Tua aparência frágil me encantou. Confesso nunca ter olhado muito bem. Agora esses teus olhos enigmáticos me fitam. És enfermeira, eu sei, sabes traduzir dores e anseios. Não é isso que me prende tanto a atenção agora, essa tua profissão. É que sendo bem sucedida como dizem, chegando a ser chefe de um hospital, largaste tudo e vieste pra cá, depois de uma guerra... Certamente é uma ocasião em que há muitos feridos para cuidar. Eras tão jovem, apenas 26 anos. Não pensavas em casar, ter filhos, família aí mesmo? Quem sabe, te projetar profissionalmente?

O que te cativou? Seriam os trópicos? Sei que em teu País o inverno é pesado... Não foi a floresta, pois aí a tinhas. Não foram os peixes. Aí tens a deliciosa truta e o inigualável salmão. Não foi o trem, rangendo em seus trilhos, pois também os há de onde vieste. Certamente não foi o desenvolvimento. Teu país produzia tecnologia quando o restante da Europa ainda engatinhava. Agora mesmo estamos querendo os caças produzidos aí! Custo a acreditar que algo subjetivo te movia, quando Petrus, aquele visionário impulsionador de jovens talentos, apenas te admitiu para estudares a Palavra de Deus. Sendo mulher e solteira as coisas ficariam um tanto difíceis. Aliás, quando decidiste vir ao Brasil, sabias que aqui não eras bem vinda. Apesar do provável apoio dos missionários de tua denominação, especialmente teu futuro marido, havia o machismo enrustido dos nordestinos. Era o prenúncio desta briga insana e mesquinha que hoje nos divide, insultando tua memória. Só restaria dinheiro e sucesso, mas a história mostra que apesar de carregares o piano, uma expressão criada por um sociológo brasileiro, para descrever tuas agruras com um marido doente, pouca ou nenhuma láurea recebeste. Então, o que seria?

Imagino-te a implorar a Deus por um destino
, abrasada pelo Espírito Santo. Tuas lágrimas e tuas orações tomaram forma quando conheceste Gunnar, então tudo se aclarou. Era o destino unindo a vontade de Deus com uma obra de tal dimensão jamais igualada por quaisquer outros missionários. Ainda que fosse somente por ele, nada te diminuiria. Ao contrário dos bons partidos líderes de hoje, filhinhos de papais-pastores, aquele homem doente e pobre nada teria a oferecer a não ser amor, cuidado, compreensão e carinho. Ele não estava construindo uma empresa, estava embrenhado em matas, falando uma nova mensagem a estranhos. Nada tinhas a herdar, como de fato, não herdastes nenhum tesouro neste mundo.

Dizem que eras incansável.
Editando jornais, pregando em praça pública, compondo, traduzindo, escrevendo, costurando, falavas dois idiomas. Ouvi dizer que fazias cultos na Casa de Detenção. Ora, se hoje já é dificil a um homem pregar num presídio... Eras corajosa, constato. Ecos da profissão, talvez. Na enfermagem se lida com nada menos que a morte e o sofrimento. Leio relatos assim:

    Em março de 1920, irmã Frida foi acometida de malária, sofrendo com terríveis ataques de febre. Durante dois meses e meio, a luta pela vida foi tamanha, a ponto do marido pedir que Deus a curasse ou a levasse para si. Nesse período, a igreja em Belém se colocou em oração e jejum, esperando de Deus um milagre, que ocorreu em 3 de junho de 1920. Depois de seu restabelecimento, ela enfrentou o problema de saúde do marido.

Imagino-te uma esguia figura de vidro diante dos ventos tenebrosos do começo. Em nada lembras as suntuosas madames de hoje em dia, preocupadas com festas e poder, que presentes ganharão nos aniversários ou onde jantar no fim de semana. Sabias que cantoras evangélicas como tu, hoje são chamadas de divas!? Nos tornamos chiques demais para teus padrões. Roupas caras não eram teu forte, inferimos das poucas fotos que nos restam.

Volto a olhar-te. Estes teus olhos não são lascivos como o de algumas obreiras. São olhos ensimesmados. Ciosos de um mundo a ganhar. Olham para um horizonte tão vasto cuja dimensão somente a eternidade vai revelar. Como se dissessem: Não nos decepcionem, sofremos muito por vocês. Ou quem sabe: Não nos olhem com piedade, façam sua parte da história, sem olhar pra trás. Não sei bem como interpretá-los, há tantas possibilidades, não é mesmo? Talvez estavas apenas olhando pelos teus, para que saíssem bem na foto. As mulheres tem esse dom.

Reverencio-te, comparando-te às muitas nobres senhoras de nossas igrejas. Aquelas que eram dez, vinte, cinquenta e depois multiplicaram-se por mil. Não vieste apenas fazer turismo, disfarçado de missão, estavas a serviço de um Deus que nunca te desamparou. Estavas certa quando largastes tudo. Do alto dos teus 49 anos padeceste tua dose final de humanidade. Sempre jovem para tudo o mais, até mesmo para dizer adeus. Como afirmas em um dos teus hinos: Se Cristo comigo vai, eu irei...

Somos fruto do incansável trabalho das tuas mãos, que Deus não é injusto para esquecer. Certamente ouviremos teu nome quando estivermos diante de seu trono. Então poderemos te conhecer pessoalmente, quem sabe te abraçar ou, melhor ainda, todos assembleianos brasileiros estaremos juntos e poderemos retribuir teu olhar. Ao menos a massa simples não vai te envergonhar.