Tudo o que pensamos, vivemos, sentimos, queremos.

23 de novembro de 2011

Apatia

Sentado a respirar, penso. Pensando em sentar, respiro. Respirando e pensando, sento.

"-O que tens?", pergunta o passante. Não sei bem. Uma mistura de dias escabrosos, noites em claro, tardes chuvosas e flores sem cheiro. "-A vida como um todo anda tão sem cheiro", comenta o passante. Concordo. Parece que as raças perdeu, cada uma, sua cor. De pele negra, branca ou parda, tudo o vejo é preto-e-branco. Perdeu-se a cor. Perdeu-se o cheiro. Perdeu-se o sabor.

"-O sabor de quê?", pergunta o passante. Da vida, das coisas, das pessoas. Vivemos dias em que gostoso e delicioso têm conotação pejorativa, enquanto antes, estes vocáculos eram empregados para expressar um dia bem respirado ou um bebê de meses, com a bochecha rosada.

"-O que mudou?" questiona o passante. Não vês? és de outro mundo? não sabes o que mudou? você, eu, a vida! Respiramos ofegantes, parecendo que estamos vivendo obrigados. Para muitos, acabou-se o prazer. Quem come jamelão, faz cara de que comeu algo azedo. Quem come marmelada, não mais se lambuza, pervertendo o ditado. Quem ri para alguém, corre risco de morte, pois o alvo do riso, achou que o outro riu de deboche. Tudo mudou, passante, tudo!

"-E o que esperas?", me diz o passante. Espero que este Augusto dos Anjos saia de mim! tenho visto tudo tão dramaticamente. Mas não sem razão. As coisas têm me levado a estes caminhos. Por um pouco, e já chamo o doutor para cortar minha singularíssima pessoa!

"-Sorte na vida!", deseja o passante, despedindo-se. Espera, passante! nem mesmo um café? o colóquio foi tão seco... Ora, nem mesmo o passante suportou o gosto da minha aridez. Decerto, ele é igual a todo mundo. Sem cheiro, sem sabor, sem cor. Que se vá! Augusto, não atente para o que escrevi acima, e fique mais um pouco.

BRUGGER, Cleison.

20 de novembro de 2011

Erros

 O homem tenta, mas não consegue.
Tentando fazer rir, consegue fazer chorar.
Tentando acertar, consegue errar, e feio.
Tentando consertar, acaba por arruinar.
Tentando reunir, acaba espalhando.
Tentando dar amor, acaba machucando.
Tentando dar alento, acaba enraivecendo.
E mesmo sendo calmo, consegue ser um tormento.

Do que o homem é feito, minha gente?
Quais ingredientes o compõe para que ele seja assim?
Imperfeição é um deles, de certo.
Essa natureza caida, que de boa nada tem.
O homem é ruim, mau, desastrado até no que é e no que faz.
E no tentando ser gente, acaba sendo monstro.
E no tentando ser gentil, acaba sendo grosso.
E no tentando sorrir, acaba por fazer careta.
Seria jocoso, se não fosse tragédico. Ou vice-versa, não sei.
Só sei que, de vez em quando, esse "tentar" do homem dispõe um riso,
mas em outras vezes, dá uma vergonha que, se pudéssemos, viraríamos pó.
Aliás, é o que somos. Pó é nossa estrutura. Isso me acalma um pouquinho.
Lembrar que não somos de bronze, chumbo ou algo do tipo, me dá um certo alívio que diz: "seu material não é lá essas coisas pra você ser o supra sumo da perfeição".

Nessa vida, errar é normal, desde que o erro não seja planejado.

Cleison Brugger


17 de novembro de 2011

Só um é amor. O resto é conversa.


 É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chopp é gelado. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário, quando se vê de vez em quando. 
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado. Nessas horas é que se vê o verdadeiro amor, aquele que é companheiro, que quer o bem acima de qualquer coisa. E é esse o amor que dura pra sempre. Na verdade esse é o único que pode ser chamado AMOR!

Ana Jiácomo