Tudo o que pensamos, vivemos, sentimos, queremos.

30 de junho de 2011

Conselhos de um velho a um jovem caboclo.

Conselhos de um velho, num dia qualquer de calor, sentado na soleira, olhando o sertão. Embora aparência cálida, tinha fala de fidalgo e pose de sabedor de tudo.

"- Cresce, que é o melhor para ti. Sê tu dono de si próprio.
Deixa de depender daqueles que por ti pouco fazem.
Faze as coisas por ti mesmo. Anda com teus próprios pés.
*
Deixa de lado Zeferina, que mainha já dorme na rede.
Apodera-te da manha do ser e do ter.
Corre atrás do que queres, do que podes, do que te é permitido (ou não)
Pára de rir com o que é fútil. Passa a sorrir um sorriso atrevido.
*
Toma postura de homem. Alarga teus ombros. Amadurece teus olhos.
Pára de olhar para outros pra ver como faz.
Vai, faz o que sabes para que outros parem para te ver.
Sê tu senhor de si mesmo. Dono de teu nariz.
*
Deixa de espreitar meninices. Já cresceste! és homem feito!
Te arruma um amor, de preferência, morena bem apanhada.
Logo após, vê se te rumas para o que nunca deu vergonha a ninguém.
*
Toma consciência do que éras e do que passaste a ser.
Vês que ninguém te engane. Já és homem, moço feito.
Não te apanhes chorando se não sabes viver o agora.
Lembra-te que a vida há de te ensinar, a murros e pontapés.
Saibas que ninguém aprende uma vez pra sempre.
É repetindo os fatos e relembrando como faz, que tomamos consciência quanto ao certo e errado.
*
Vê se te rumas pra frente, nunca pra trás. És gente, não bicho!
Vê se te apegas a uma nega. Não renegue tua raça!
E jamais te esqueças de onde vieste (se te esqueceres, tua pele te mostra)
Sempre te lembres das parideiras, do João-de-Barro nas Palmeiras, do fruto dos cajueiros.
Lembra-te de quando eras mancebo, mas vive a vida que agora tens.
Quem vive de lembrança vê a vida passar, tal qual Sabiá-coleira rumando ao ninho.
*
És moço bom, pacato homem.
Mas sei do touro bravo que pulsa no teu peito.
Não folgues com a injustiça que existe em cada esquina.
Não deixe que te levem a caminhos de novidades.
*
Resolve-te a ti mesmo, caboclo.
Vive tua vida de moço do mato.
Mata a mata da vida difícil.
Cobre teu peito da relva da selva.
Cobre teu rosto da singeleza do sertão."

Cleison Brugger

28 de junho de 2011

Certezas.

Digo, sinceramente, que tentei escrever algo para a presente data, mas não consegui. Na verdade, gosto de escrever para outros; sou um poeta-alheio. Por esta razão, guardo as letras para os 20 anos. E é certo que Mário Quintana, de antemão, escreveu tudo o que eu gostaria, então, faço minha suas palavras de tal forma, que no final do texto leia-se como autor Cleison Brugger.
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Não quero alguém que morra de amor por mim. Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando. Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.

Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim. Nem que eu faça a falta que elas me fazem; o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível e que esse momento será inesquecível.

Só quero que meu sentimento seja valorizado. Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre. E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.

Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.

Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho. Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento e não brinque com ele. E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.

Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe. Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.

Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas. Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.

Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros. Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão.
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim e que valeu a pena.


Mário Quintana.

27 de junho de 2011

Ao amigo, com carinho.

Sei que prometi a mim mesmo não fazer deste blog um espaço para assuntos outros, a não ser os devaneios que me vem a todo instante. Porém, como não sou dado a regras, dou as mãos a excessão, pois é certo que as coisas especiais merecem seu espaço, mesmo que seja para uma breve apresentação.
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"Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará" (Mt. 24,12)
Num âmbito social, certamente o verso em apreço faz muito sentido, visto que, dia após dia, pessoas se entregam ao (des)amor e a (des)humanização. Certo é que, contrariamente, não temos o direito de pensar, já que, um dia dito por Cristo, isto só pode ser a verdade. Todavia, paradoxalmente, as coisas se invertem quando se trata do âmbito divino, e posso dizer que a amizade com Matheus Bastos diz bastante sobre isso.

Meu ciclo de amizade sempre foi volúvel. Nunca fui uma pessoa de uma amizade só, o tempo todo. Ao passar dos anos, tive muitos "chegados", os que eu mais conversava, mais brincava, mais gostava. Mas posso dizer que as coisas mudaram quando, num tempo que não lembro, comecei a gostar da idéia de iniciar uma amizade com um menino mais novo que eu. Na verdade, eu o via mais nas festas do meu primo, e tudo garantia que ele seria um bom amigo para o garoto que morava no prédio ao lado. Contudo, Matheus cresceu, e cresceu muito. Cresceu tanto, que os padrões de meu primo tornaram-se antagônicos e inaceitáveis para ele. "Isso é coisa de criança", talvez pondera-se.

Logo na pré-adolescência, ele se tornou adulto antes do tempo. Adulto mesmo, no pensar, no agir, no ser. Talvez isto tenha iniciado com a perda de algum fundamento importante, ao qual lhe obrigou a se tornar o homem da casa, o chefe de família, menino-adulto. Verdade é que, por trás de todas as coisas, Deus agia nas entrelinhas, preparando bons fins. Enquanto os da sua idade só tinham por preocupação passar de ano, ele já projetava sua futura empresa e seu escritório. Nunca duvidei de seus projetos e sonhos. Aliás, é tão intensa a confiança que ele tem em si mesmo, que nos leva a crer que as coisas certamente acontecerão. A seu tempo, mas virão.

Ao passo que víamos um garoto, víamos um homem. Talvez na indecisão (leia-se amadurecimento) do que ser, optou por seu adulto. Até que, num dia qualquer, nos encontramos. Eu, com minha vontade de amadurecer e ele, decidido a crescer. Em conversas-diversas, vimos que tínhamos coisas em comum: sem amores, com temores, não-doutores, sonhadores. Infelizmente, ainda hoje não consigo ajudá-lo no amadurecimento, visto que não consigo ajudar-me, mas ele, com maestria, consegue auxiliar-me, pois sabe o que é crescer, pois não aprendeu com os livros, mas com os fatos.

Hoje, entendo melhor o que disse o sábio: "existem amigos mais chegados que irmãos" (Pv. 18,24) e o sábio tem razão. Na verdade, Matheus se tornou o irmão que eu nunca tive. As brigas, conversas, brincadeiras e afetos que temos, comprovam isto. Crescemos juntos, cremos juntos (quem sabe, um dia, calvinistas), estamos juntos. Às vezes, brigamos pelo caminho, discutimos trivialidades, conversamos bobagens, não obstante, os assuntos sérios e complexos sejam, geralmente, colocados à mesa.

Assim posto, venho parabenizar o amigo, o caro, o colega, o irmão Matheus Bastos, grato a Deus pela bênção que a nós (muitos outros) foi dispensada e pedindo a Deus que, mesmo nesta época iníqua, o amor, a amizade, os abraços e afetos não se esfriem. Feliz 16 anos, é o que eu desejo.

No amor de Cristo, que fortalece as amizades,
Cleison Brugger.

21 de junho de 2011

Antes do Sol nascer.

Antes do Sol nascer, quero ler poemas vários, para tentar dar alento ao que, em mim, pulsa forte. Antes do Sol nascer, quero sentir um vento fresco, e assim tomar doses de paixão e suspiros, antes da luz chegar. Antes do Sol nascer, preciso ler Baudelaire, cantar com Buarque, sorrir com as flores e sentir com Augusto dos Anjos. Antes do Sol nascer, preciso de alguém aqui - sorrindo, amando, sentindo - sem ter horas para ir, nem momentos para adeus. Antes do Sol nascer, quero ouvir uma canção, que na insistência das notas altas, arrefeça-me a vida. Antes do Sol nascer, quero ver o céu, deslumbrante em seu breu, arquitetado pelas mãos de um Ser superior. Antes do Sol nascer, quero tirar-lhe o véu, desnudar tua face e maravilhar-me à tua formosa pele. Antes do Sol nascer, quero você; Sim, quero você, antes do Sol nascer.

Cleison Brugger.

13 de junho de 2011

A mulher da minha vida.

Não era um impasse. Era apenas um incômodo, um mal-estar. Eu a queria, mas não dava para tê-la. Então, resolvemos ser amigos. Mas a amizade limita os afetos (pelo menos, os que eu queria dar). Os abraços e beijos devem ser comportados. As conversas não podem ser provocantes. A língua limita-se ao falar. Eu queria mais, não apenas um amor efêmero. Definitivamente, não era assim que eu a queria tratar. Na verdade, queria tê-la para mim, como minha, sem restrições, educações ou gentilezas. Se fosse para ter algo do tipo, que fosse romantismo. Pegar na mão, sentir-me dela. Trocar olhares, sentir-me belo à vista.

Contudo, o conúbio soava estranho. Era tão bom estar com ela, mas aquela sensação não parecia oficial. Algo dizia que o encanto brevemente acabaria. E delicadamente acabou. Sem delongas, sem chateações. Acabou porque acabou. Quisemos que acabasse. Não havia razão para continuar. Verdade é que não era uma farsa, mas também não era totalmente verdade. O momento era bom, mas era fugaz. Embora belo, não enchia barriga. Queríamos algo, digamos, mais psicodélico. Perfumado, tal qual manacá-de-cheiro.

E então, num agradável colóquio, despedimo-nos um do outro. Tenuamente, passamos de enamorados para amigos novamente. Na verdade, nada tinha acabado, pois nem mesmo havia começado. Seu abraço, depois disto, foi o mesmo que recebi quando me apaixonei. Sinceramente, ela era a moça mais doce e impressionante que eu havia conhecido. Num beijo de despedida, retirei-me para casa, torcendo para que não houvesse perdido a mulher da minha vida.

Cleison Brugger

6 de junho de 2011

Uma tal Frida.

Frida Maria Strandberg Vingren
Frida Vingren, como era chamada, foi uma missionária que veio, em 1917, para o Brasil, ajudar na implantação das Assembleias de Deus. Em Agosto deste mesmo ano, casou-se com o co-fundador da igreja no Brasil, missionário Gunnar Vingren.
Frida Vingren, embora injustiçada e sofredora, merece lugar na história e lembrança nestes 100 anos. Compôs 07 hinos para a Harpa Cristã e traduziu mais 16. Com a vinda da família Vingren para o Rio de Janeiro em 1924, Frida Vingren mostrou a que veio: pregou, liderou, cantou, tocou órgão e violão, escreveu, costurou, compôs, traduziu, redigiu, ensinou, cuidou da enfermidade do esposo, teve de recuperar-se da malária, esgotamento físico, palpitações no coração e da perda de sua filhinha Gunvor, dirigiu cultos em praças e no presídio e foi, ativamente, uma das líderes da Assembleia em Deus em São Cristóvão-RJ, na ausência do esposo. É incalculável o número de almas que Frida ganhou para seu Senhor. Porém, o machismo nordestino e dos missionários suecos abafou o seu chamado e, por ser mulher, foi posta de lado. Aos 49 anos, no ano de 1940, morreu na Suécia vítima de um câncer, e os portais sempiternos a receberam, guiando-a para o lar celeste. Com tudo isto, hoje relembramos teu chamado e história, e damos valor ao trabalho que ajudaste  a edificar, Frida Strandberg Vingren.

*
Tua aparência frágil me encantou. Confesso nunca ter olhado muito bem. Agora esses teus olhos enigmáticos me fitam. És enfermeira, eu sei, sabes traduzir dores e anseios. Não é isso que me prende tanto a atenção agora, essa tua profissão. É que sendo bem sucedida como dizem, chegando a ser chefe de um hospital, largaste tudo e vieste pra cá, depois de uma guerra... Certamente é uma ocasião em que há muitos feridos para cuidar. Eras tão jovem, apenas 26 anos. Não pensavas em casar, ter filhos, família aí mesmo? Quem sabe, te projetar profissionalmente?

O que te cativou? Seriam os trópicos? Sei que em teu País o inverno é pesado... Não foi a floresta, pois aí a tinhas. Não foram os peixes. Aí tens a deliciosa truta e o inigualável salmão. Não foi o trem, rangendo em seus trilhos, pois também os há de onde vieste. Certamente não foi o desenvolvimento. Teu país produzia tecnologia quando o restante da Europa ainda engatinhava. Agora mesmo estamos querendo os caças produzidos aí! Custo a acreditar que algo subjetivo te movia, quando Petrus, aquele visionário impulsionador de jovens talentos, apenas te admitiu para estudares a Palavra de Deus. Sendo mulher e solteira as coisas ficariam um tanto difíceis. Aliás, quando decidiste vir ao Brasil, sabias que aqui não eras bem vinda. Apesar do provável apoio dos missionários de tua denominação, especialmente teu futuro marido, havia o machismo enrustido dos nordestinos. Era o prenúncio desta briga insana e mesquinha que hoje nos divide, insultando tua memória. Só restaria dinheiro e sucesso, mas a história mostra que apesar de carregares o piano, uma expressão criada por um sociológo brasileiro, para descrever tuas agruras com um marido doente, pouca ou nenhuma láurea recebeste. Então, o que seria?

Imagino-te a implorar a Deus por um destino
, abrasada pelo Espírito Santo. Tuas lágrimas e tuas orações tomaram forma quando conheceste Gunnar, então tudo se aclarou. Era o destino unindo a vontade de Deus com uma obra de tal dimensão jamais igualada por quaisquer outros missionários. Ainda que fosse somente por ele, nada te diminuiria. Ao contrário dos bons partidos líderes de hoje, filhinhos de papais-pastores, aquele homem doente e pobre nada teria a oferecer a não ser amor, cuidado, compreensão e carinho. Ele não estava construindo uma empresa, estava embrenhado em matas, falando uma nova mensagem a estranhos. Nada tinhas a herdar, como de fato, não herdastes nenhum tesouro neste mundo.

Dizem que eras incansável.
Editando jornais, pregando em praça pública, compondo, traduzindo, escrevendo, costurando, falavas dois idiomas. Ouvi dizer que fazias cultos na Casa de Detenção. Ora, se hoje já é dificil a um homem pregar num presídio... Eras corajosa, constato. Ecos da profissão, talvez. Na enfermagem se lida com nada menos que a morte e o sofrimento. Leio relatos assim:

    Em março de 1920, irmã Frida foi acometida de malária, sofrendo com terríveis ataques de febre. Durante dois meses e meio, a luta pela vida foi tamanha, a ponto do marido pedir que Deus a curasse ou a levasse para si. Nesse período, a igreja em Belém se colocou em oração e jejum, esperando de Deus um milagre, que ocorreu em 3 de junho de 1920. Depois de seu restabelecimento, ela enfrentou o problema de saúde do marido.

Imagino-te uma esguia figura de vidro diante dos ventos tenebrosos do começo. Em nada lembras as suntuosas madames de hoje em dia, preocupadas com festas e poder, que presentes ganharão nos aniversários ou onde jantar no fim de semana. Sabias que cantoras evangélicas como tu, hoje são chamadas de divas!? Nos tornamos chiques demais para teus padrões. Roupas caras não eram teu forte, inferimos das poucas fotos que nos restam.

Volto a olhar-te. Estes teus olhos não são lascivos como o de algumas obreiras. São olhos ensimesmados. Ciosos de um mundo a ganhar. Olham para um horizonte tão vasto cuja dimensão somente a eternidade vai revelar. Como se dissessem: Não nos decepcionem, sofremos muito por vocês. Ou quem sabe: Não nos olhem com piedade, façam sua parte da história, sem olhar pra trás. Não sei bem como interpretá-los, há tantas possibilidades, não é mesmo? Talvez estavas apenas olhando pelos teus, para que saíssem bem na foto. As mulheres tem esse dom.

Reverencio-te, comparando-te às muitas nobres senhoras de nossas igrejas. Aquelas que eram dez, vinte, cinquenta e depois multiplicaram-se por mil. Não vieste apenas fazer turismo, disfarçado de missão, estavas a serviço de um Deus que nunca te desamparou. Estavas certa quando largastes tudo. Do alto dos teus 49 anos padeceste tua dose final de humanidade. Sempre jovem para tudo o mais, até mesmo para dizer adeus. Como afirmas em um dos teus hinos: Se Cristo comigo vai, eu irei...

Somos fruto do incansável trabalho das tuas mãos, que Deus não é injusto para esquecer. Certamente ouviremos teu nome quando estivermos diante de seu trono. Então poderemos te conhecer pessoalmente, quem sabe te abraçar ou, melhor ainda, todos assembleianos brasileiros estaremos juntos e poderemos retribuir teu olhar. Ao menos a massa simples não vai te envergonhar.

2 de junho de 2011

La vita è bella

Vamos sair para o campo, dar a mão às raparigas em flor e dançar com elas ao Sol*. Vamos à floresta, ver as folhas que o outono envelheceu, anunciando o fim do veraneio. Vamos à rua, pisar descalços na terra que a chuva encharcou, e arriscar alguns passos de tango. Vamos ao baile, àquele que acontece na praça, e mostrar-lhes o charme da nossa raça. Vai, põe teu vestido vermelho de cetim e vem! Vem, dá-me tua mão enquanto cai chuva. Vai, deixa molhar teu rosto moreno. Vem, que te farei suspirar poesia. Vai, dança na chuva e solta os cabelos. Vem, dá-me do calor do teu verão. Vai, dança a dança da tua tribo. Vem, deixe-me tocar tua pele ianomani. Permita-me te amar ao som deste scherzo, para que então, chegada a primavera, possa eu te colher a primeira flor, agarrar-te e ter-te como minha. Vai, não deixe que morra o que arde em nós dois. Vem, vem dar vida àquilo que parece singelo, mas é fogo e paixão. Vem, que prometo pedir aos teus pais tua mão. Vem, que te tiro de casa e te levo comigo no meu alazão. Vem, que sairemos ao campo, sem rumo ou destino, sobrevivendo somente de amores. Sim, quero ter-te e olhar-te e amar-te. Despertar pela manhã e despertar-te, e olhando tua beleza, desejando os teus lábios, poder dizer: Buongiorno, principessa.

Cleison Brugger

*Texto de Érico Veríssimo no conto: "As mãos de meu filho".