Tudo o que pensamos, vivemos, sentimos, queremos.

9 de setembro de 2011

Prazer e ódio.

Satânico é o meu pensamento a teu respeito e ardente é o meu desejo de
apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me
fizeste ontem.

A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando,
sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu
corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos
lugares. Eu adormeci.

Hoje, quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós
ocorreu durante a noite.

Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando
chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas
as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do
teu corpo.

Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito desgraçado*!

Carlos Drummond de Andrade

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