Tudo o que pensamos, vivemos, sentimos, queremos.

31 de julho de 2011

Momentos.

Ultimamente, encontro-me cansado. Cansado das conquistas alheias, dos sorrisos dos outros, da felicidade estampada na cara de todo mundo. Dá a maligna vontade de perguntar: "Pra quê tanto riso? não vês que o mundo chora?"

Cansado de regras, de leis, de decretos. Cansado de tentar ser bom e moralista e cumprir, todos os dias, uma tabela do "pode isso - não pode aquilo". Cansado de rir sem alegria, ou a forçação de chorar quando não se tem lágrima. Cansado de ser bobo. Quero ser mais sério, mais rústico, mais contido. De tão bobo que tenho sido, me pergunto se isto é inerente a mim ou é alguma façanha pessoal que tente me enturmar com o resto do mundo.

Sinto-me cansado de sempre ter que ser o baluarte, a escora dos outros. Quero ser vítima, ter lamentos e chorar. Quero ficar num canto e pensar, prantear por um pouco, mesmo que o motivo disto seja alheiamente incoerente e fugazmente passageiro.

Estou cansado da teoria sem prática, do falar sem viver, das paixões em palavras e da passividade dos atos. Na verdade, muito falo e muito ouço, mas pouco sinto; minha alma se sente pobre de abraço, de carinho, de aperto de mão sincero, de olhares elogiosos ou de gestos que transmitam paz.

Cansado da falsa espiritualidade, da hipocrisia dos risos, da falsidade das gargalhadas e da lascividade dos olhos. Sinto falta da sinceridade, da pureza, da espontaneidade. Muitos têm sido tão outra pessoa, que fico a imaginar quem eles vêem quando se olham em espelhos.

Cansado do monotonismo, daquilo que nunca muda, nem sofre alteração. Porque o ano só tem doze meses? doze é muito pouco! acaba janeiro, vem fevereiro, dá-le dezembro, e vamos tudo de novo, novamente!

Alguém me recomendaria a morte como solução de todo este cansaço. Mas aí, responderia: "Não vês que isso é coisa de momento, que vem e logo passa? não vês que a vida é o melhor remédio para aliviar os estresses que ela mesmo traz? não vês que amanhã tudo pode ser diferente?". Depois de responder a objeção que me foi feita, paro pra pensar na resposta e percebo que, embora tudo o que escrevi é verdadeiro aos meus olhos, isso passa e as coisas podem sim melhorar.

Cleison Brugger

29 de julho de 2011

Si mesmo.


E o meu desejo é não ser o assunto alheio.
E que não fale de mim, mas fale de si mesmo.

Observe a si mesmo, e nesse ato não é necessário que seja observado apenas os defeitos, observe suas qualidades. Veja como e quando você é bom em algo. Mas, claro, com o cuidado de não deixar de ter uma visão de seus defeitos.

Duvide de si mesmo, duvide se seria capaz de fazer alguém sofrer por querer. Seria?

Critique a si mesmo; e isso é importantíssimo, só criticando a si mesmo que é possível ver onde pode consertar afinal você não nasceu com defeitos só para que todos pudessem ver que você não é perfeito, mas sim pra aprender com os mesmos e assim procurar evoluir sozinho.

Ria de si mesmo. Porque não? Rir pra si mesmo é mostrar à vida uma necessidade de ser feliz mesmo que em seu quarto sozinho olhando no espelho. Apenas ria.

Então, seja você mesmo quando estiver chorando, rindo, duvidando e observando. 

E rir meu riso e derramar meu pranto.* 

Anne Albuquerque

*citação de Vinícius de Moraes

27 de julho de 2011

O caminho.

Desde o gênese, fui instado a percorrer um caminho a qual que não precisei de búsula precisa para encontrá-lo, pois eu mesmo o encontrei. Mas não o encontrei por novidade, pois as pisadas que ali estavam eram frescas e incontáveis. A bem da verdade, sinto que fui predestinado para o tal, pois não há atalhos ou caminhos alternativos. Todos devem passar por ali. Desde Adão, o pioneiro do caminho, todo o homem que experimenta nascer passa por ali, inevitavelmente. Como também nasci, passo também por ali. O caminho não é difícil, embora poucos saibam qual destino o caminho dará. Todavia, as notícias que temos daqueles que se desviaram do caminho, dizem que os que lá chegaram, morreram. Mas não há escolha: ou passamos por ali ou persistiremos em permanecer num útero, o que nenhuma mãe que se preze deixará - ela quer mais que saiamos!

Bem na entrada do caminho existe uma porta larga e espaçosa. O convite é um tanto provocante. Ao andar pelo caminho errante, encontro prazeres e sensações fascinatórias. Que bom que minha genitora me expulsou daquele cubículo! ao longo do caminho, encontro flores e fezes, prazeres e pesares, aventuras e desventuras. Não sei o que virá pela frente, só sei que eu quero sempre mais daquilo. "Nunca se satisfaz" é o lema do que percorre o caminho. Mas um dia aquilo enjoa.

Andando melindroso pelo caminho que, outrora tão fascinante, agora tão sombrio, vejo uma placa pequena, de madeira, que aponta para um caminho inverso. O caminho se chama curiosamente "O Caminho". Tento entrar no novo caminho, mas não consigo. O meu EU, irritado comigo, diz que se eu for, nossas relações estarão cortadas, mas a minha alma clama pelo caminho inusitado. Na minha briga comigo mesmo, percebo ao lado um aviso que diz: "Teantropos". Sem saber ao certo o que me foi anunciado, grito bem alto aquele enigma e uma força sobrenatural me puxa para o novo caminho. Sigo em frente. À frente, encontro pessoalmente Àquele ao qual clamei, o Teantropos, o Deus-homem, e a partir dali, não sou eu quem ando apenas, mas Ele comigo. O caminho, diferente do outro que vim, é estreito e cheio de 'não-me-toque'. Não pode isso, não pode aquilo, faça isso, faça aquilo... mas a bem da verdade, encontrar o Teantropos me satisfez plenamente.

Deste novo caminho, há como ver o caminho a qual vim e o seu temido destino: é um portal escuro, com animais sombrios na porta. Aqueles que entram, são imediatamente tragados por toda a eternidade. Para alguns, esse destino é ainda mais horrendo. Mas aqueles que seguem ao Teantropos, seguem seguros, sem medo do que virá pela frente, aliás, se passarmos por algum desafio, o Teantropos passará também, pois não está longe de nós. Até que chegamos, mas o destino não nos é permitido falar, tal qual apocalipse. Só sei que, depois que encontrei o caminho da vida, pude andar seguro ao lado de Cristo, e Este, a me guiar.

Cleison Brugger.

25 de julho de 2011

Hoje, aqui, nasceu uma flor.

Sei que há leitores aqui e não são poucos. Por isso, há a devida preocupação de avisar-lhes que tenho a honra de apresentar a mais nova escritora e administradora do Devaneios. Escrevendo o que sente e vivendo a emoção das letras, ela vem aqui compartilhar o que sente e o que vive. Dando agora um toque de feminilidade e trazendo consigo uma inigualável percepção das coisas, das gentes, das raças e de si mesmo, ela vem até nós trazer o encanto das letras e o fascínio de seu sorriso que, tenho certeza, sentiremos ao ler seus escritos. A partir de hoje, tenho a honra de ter comigo aqui, escrevendo, sentindo, querendo e vivendo, Anne Albuquerque.

Nem todo dia.


Nem todo dia, eu estou bem; mesmo que eu diga que sim.
Nem todo dia, eu quero rir; mesmo que esteja feliz.
Nem todo dia, me sinto amada; mesmo que na verdade eu saiba que sou.
Nem todo dia, eu me importo; mesmo que seja alguém que eu goste muito ou algo desejado.
Nem todo dia, eu estou "zen"; mesmo que eu mostre isso aparentemente.
Nem todo dia, eu NÃO quero briga; mesmo que eu saiba que o motivo é fútil.
Nem todo dia, eu estou simpática; mesmo que as pessoas tentem ser comigo.
Nem todo dia, eu tenho paciência; mesmo que seja com pessoas que me entendem.
Nem todo dia, meu estresse é TPM; mesmo que eu diga: - só pode ser TPM.
Nem todo dia, eu estou romântica; mesmo que ele me traga flores e diga eu te amo.
Nem todo dia, eu sinto falta; mesmo que tenha pessoas importantes longe ou se distanciando.
Nem todo dia, eu escrevo bem; mesmo que seja para escrever de sentimentos para alguém amado.
Nem todo dia, minha tristeza é carência de amigos; mesmo que os mesmos estejam longe e presos na rotina do dia a dia que nem percebam meu semblante triste. 
Enfim, nem todo dia é todo dia.

Anne Albuquerque

15 de julho de 2011

Constatações.

Finalmente, agora é dia; entretanto, a noite já vem.
Finalmente, o Sol raiou; entretanto, a escuridão virá a flux.
Finalmente, o trem chegou; entretanto, já se prepara pra partir.
Finalmente, já cresci; entretanto, ainda brincam com os meus sentimentos.
Finalmente, maduro sou; entretanto, ainda rio com frivolidades.
Finalmente, escrevo poemas; no entanto, ainda penso trivialidades.
Finalmente, não choro por coisas; entretanto, choro por gente.
Finalmente, as flores nasceram; entretanto, virão estações outras e logo morrerão.
Finalmente, a vida é boa; entretanto, a vida passa.
Finalmente, um infante nasceu; entretanto, amanhã é velório de algum alguém.
Finalmente, certo momentos me inspiram; entretanto, certos detalhes me preocupam.
Finalmente, sou um homem dado à integridade; entretanto, surrupio beijos e abraços.
Finalmente, preciso terminar o poema; para tanto, preciso saber como fazer.
Entretanto, se pararmos pra pensar, veremos que o poema tem tantos "entretantos" que os "finalmentes" só viriam pra somar.

BRUGGER, Cleison.

7 de julho de 2011

Conúbio.

Chove lá fora. Aqui dentro, eu e meu amor. O frio, embora intenso, não consegue arrefecer o calor que o lembrar dela me traz. Nesta lembrança, penso voltar a ser infante e viver à puerícia. Ir lá fora, pegar tua mão e dançar um scherzo qualquer. Tu e teu vestido de bolinhas coloridas. Eu e minha vergonha de mostrar quem sou pra ti. Tu e tua pessoa introspecta. Eu e minha angústia de querer saber quem és.

Sabendo que queres ir comigo, te faço um convite um tanto atrevido: "Queres ver a chuva que lá fora cai?". Sem hesitar, sei que aceitarias. Não és moça de desfeitas. Aceitarias movida pelo teu ultraje com cara de ingenuidade.

Já lá fora sentindo da chuva, te convido pra uma dança qualquer. Embora eu saiba que não sabes dançar, te faço lembrar que ainda somos crianças e não precisamos ser mestres naquilo que fazemos. Querer fazer já basta.

Na intimidade da dança, a parte mais íntima do corpo é a cintura, e como é bom saber que só eu - e mais ninguém - é quem pode pegar nestas tuas finuras sem ter de ti um olhar rude. Sei que posso, pois me amas. Sei que devo, pois me queres. Sei que gostas, pois me aceitas. Neste ato, te tenho como minha. Minha posse. Meu latifúndio. Minha rainha.

Já tentando dançar qualquer coisa, tu percebes que o que há são mais do que passos de dança. Tu sabes que te quero - e quem disse que tu não me queres? sei que o teu coração está vibrante, teu sangue ferve e tua alma gélida está. Será a chuva? certamente que não. Até a chuva parou pra olhar a bela cena que se dá naquele quintal, no bairro Jardim Botânico, juntos aos pés de acerola, laranja e manacá.

Num impulso, volto à vida. Deixo a infância com suas lembranças para trás. Sei que não te tenho como antes, com vestidos de bolinhas - variados - ou com aquela face rosada, não obstante, olho para o lado e te tenho aqui, comigo, sorrindo, me amando. Te quis quando criança pra poder te ter agora. Agora que te tenho, o que restam são lembranças.

Cleison Brugger.

5 de julho de 2011

Morreu o assunto.

Como assim "morreu o assunto"? como ele pôde ter morrido, tão inesperadamente?
Sem dúvida, a culpa é tua, homem inconstante que não sabes o que é dialogar.
Que morra tu com tuas ideias nefastas, não o assunto. Que morra tu, com os teus pensares, não o pobre que nada fez, senão tentar resolver nossas discordâncias por meio do embate. Se não sabes o que é assuntar, ou ao menos não sabes que assuntos não morrem tão facilmente, julgo ser melhor para ti o silente silêncio. Não sabes tu, insolente homem, que assuntos não morrem tão facilmente e que discordar é bom pra saúde?
Assim, como então dizes: "morreu o assunto"? ele não pode morrer!
Não o desabone!
Traze-o a vida!
coloquemo-o em pauta!
[e respeite meus imperativos]
Pois se o tal morrer, morrerei eu, pois  pensar sem falar é alarido travestido de silêncio, e este, é prerrogativa infame dada apenas aos sem voz.

Cleison Brugger.