Tudo o que pensamos, vivemos, sentimos, queremos.

22 de setembro de 2011

Idílio.

Noites vêm, noites vão e ela não sai das minhas lembranças. Ela quem, pergunta o inchirido? quem eu (ou tu) achar por bem ser. De fato, nem tudo o quero, possuo, como nem tudo o que possuo, desejo, de fato, ter. Há coisas que precisamos ter e não temos nem um bucado, nem uma gota sequer pra sanar a sede, mas aquilo a qual não precisamos ter, isso temos a flux.

Sim, afirmo que preciso de amor. Leia bem, preciso de amor, não um amor. Não quero dizer com isso que fiz o voto do celibato, mas quero asseverar que de nada adianta ter um amor, se não tenho o amor. Como amar sem amor? seria como saciar a sede numa fonte que há muito secou-se. Aliás, nesses tempos de estranheza quanto ao tipo humano e incertezas do quem é quem, há tantos corações onde a fonte do amor se secou, que para os tais amar é somente (e apenas) um verbo transitivo direto.

Na verdade, preciso de um amor idílico, bucólico, juvenil, suave. idílico no dar e ter de volta, bucólico por me fazer lembrar das flores, juvenil por me fazer saber o que é a vida e suave, por me fazer ouvir, mesmo sem ter musica, sustenidos e bemóis. Quero amar e saber o porquê estou amando. Quero reciprocidade, dar e receber, numa mesma sintonia. Quero um amor poético, que me faça suspirar, devanear, sonhar, fantasiar. Dançar uma melodia, bailando, eu comigo mesmo, ou eu com a morena que mora na rua das margaridas, ou eu com a chuva do veraneio. Não importa com quem. O que importa é estar acompanhado.

Portanto, pode-se perguntar: "queres se enamorar?" talvez. "Queres uma paixão?" aceito, certamente. Mas não quero me enamorar e ter uma paixão apenas com alguém, mas com alguns e também com coisas. Quero rir da e com a vida. Quero escrever poesia olhando a chuva; quero sentir uma nortada e saber que sou querido; quero esquecer-me de mim e lembrar que, se eu der amor, serei retribuido, quer com abraços, quer com carinhos, quer com um simplório sorriso.

BRUGGER, Cleison.

9 de setembro de 2011

Prazer e ódio.

Satânico é o meu pensamento a teu respeito e ardente é o meu desejo de
apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me
fizeste ontem.

A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando,
sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu
corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos
lugares. Eu adormeci.

Hoje, quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós
ocorreu durante a noite.

Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar. Quando
chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas
as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do
teu corpo.

Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito desgraçado*!

Carlos Drummond de Andrade