Tudo o que pensamos, vivemos, sentimos, queremos.

5 de setembro de 2013

Irmão mais velho


Irmão não vem, já está. E fica, quando todos se vão. E brinca, quando tudo o mais é sério. E diz, quando silenciar é preciso. E implica, quando a gente menos espera. Se vai, num ímpeto de rebeldia, mas vem, dizendo então que vai ficar. E deita, no quarto dele, no meu, no nosso. E senta, pra ver tv, não pra jantar. Se enrola, quando a desculpa não é tão boa. Se impõe, quando o menor está em perigo. E bate, em quem for preciso pra defender. E ri, como se fosse ontem que se machucou. E entende, quando não estou bem para conversar. E insiste, puxando assunto e me fazer falar. E grita, quando em discordância nós nos encontramos. E xinga, a mim, a mãe, ao mundo, um subversivo. E adora as revoluções do nosso país. Mas guarda as conservações dos tradicionais. E gosta de música alta até a madrugada. E acorda, logo bem cedinho para trabalhar. E chega, com a mochila suja e corpo suado. E deita, meio sem conversa, querendo dormir. E a gente, que olha isso tudo, sente logo falta. A falta que faz o menino que outrora víamos lá na ruazinha, que tal qual moleque bagunceiro, brincava de bola, e de soltar pipa. Agora, o garoto cresce, vira logo homem e vai trabalhar. Mas mesmo grande uma coisa é certa, ele sempre foi e sempre será: meu irmão.

Cleison Brugger.

1 de fevereiro de 2013

Fevereiro

Fevereiro é mês dois, Fevereiro é depois de Janeiro. Fevereiro tem samba, Fevereiro tem suing, Fevereiro tem mulatas ao som de Cartola. Fevereiro é mês quente, Fevereiro tem gente que se ama e quer ser feliz. Fevereiro é febril, também é pueril, e que faz de adultos crianças de novo. Fevereiro é bem breve, e de todos o mais leve, e no bissexto ano continua sendo menor. Mesmo assim, nos encanta, e nos tira o mais leve sorriso, por entrar e cantar o samba da vila do pobre menino.



 Cleison Brugger

28 de janeiro de 2013

Morte em Santa Maria

Entrei na boate pra sorrir e cantar, mas havia morte lá dentro. Como cantar novamente?
Ao ir pra boate, deixei aqui fora amigos e parentes, mas ao chegar lá, havia morte lá dentro. Como revê-los?
Por um tempo, a música era boa, o som era empolgante, o ritmo dançante e os risos estapafúrdios, mas nas longas horas, morte com fogo chegou. Como contarei disso tudo aos que não foram?

Entrei, mas não sai. Com vida, ali morri. E na morte, matei a outros, de perto ou de longe, na tragédia em Santa Maria.


Com pesar, Cleison Brugger.

7 de janeiro de 2013

Menina do interior

Chegou de mudança em uma cidadezinha do interior, uma família bem humilde, pai, mãe e filha. Ora vejam: moreninha, sorriso branco, pele doce. Aquele cheiro de alfazema nas mãos, que só de encostar na gente já apaixona. No cabelo, uma tiara. Na verdade, tiara simples. Mas tudo o que aquela menina usava tinha um valor maior. A tiara mais parecia uma coroa naqueles longos cabelos rubros.

Chegou ali e encantou. As pessoas da cidadezinha ficam bobas com o jeitinho encantador da jovem, ela é diferente, tem uma coisa a mais. Conta-se que, certa vez, um menino meio bobo veio puxar assunto, dizendo: "belo dia o que está!", no que ela disse: "meu Pai que fez!", no que perguntou o moço: "quem é seu pai?" e ela respondeu: "O Rei dos reis" Ora vejam a fé da menina, ora vejam de onde ela brilha: a luz que dela reluz não vem de fatores outros senão da certeza de saber que seu Pai a tudo faz. 

O tempo passa e as pessoas a cada dia ficam mais apaixonadas pelo jeito da menina, e acaba que começam a chamá-la de Princesa. Pronto, pegou o apelido. Título, não sei. Só sei que a menina fazia jus ao que a ela titularam. “Essa menina é uma princesa”; “jeito meigo e delicado como o de uma princesa”, as pessoas diziam.

E Talvez, as pessoas chamavam a menina de Princesa por ela ser filha do Rei dos reis, ou pelo seu modo de viver ou pelo jeito carinhoso de tratar as pessoas. Não se sabe bem, mas ela encantava e brilhava e, na verdade, todos esperavam o dia em que o Rei viria para buscá-la, pois esta era uma história que ela contava com tanta certeza que as pessoas estavam já acreditando. Ela dizia com frequência: "O Rei está voltando!".



Por Cleison Brugger e Lorena Freitas

1 de janeiro de 2013

Ano Novo

Um cheiro bom está lá fora. Cheiro de novo. Deve ser o ano.

Que vento bom lá fora. Ao senti-lo, vi-o levando coisas e trazendo outras. Deve ser bonança.

Que criança linda lá fora. Deu um sorriso. Deu-me esperança que a vida acontece e continua.

Que dia bom lá fora. Dia esse que já se fez noite. Engraçado que ontem mesmo era um ano passado, e o hoje é o futuro do ontem que se foi. Ouço os passos de novos dias vindo à frente.

Que assunto bom lá fora. Pena que acabou, mas deu sinal de que continuaria. Que bom, pois temos muito o que conversar nestes dias que pela frente virão.

Que beijo lindo daquele casal. Parecem estar apaixonados. E eu pensando que o ano tinha levado a paixão. Ela veio e acontece. Há razões para sorrir e amar.

Que praça bonita ali na esquina. Tem um banco onde sentam velhos. E tem grama, onde sentam todos. Bom espaço para sentar e cantar.

Que vida boa que se vive, que às vezes parece ruim, mas na essência é boa sim. Num novo ano, viver traz medo, mas na essência traz novidades, e quem não ri com novidades? é certo que com os anos vem as dores, vem os filhos, vem canseira, vem grisalhos, vem tormentas. Mas duvido que alguém queira parar num ano velho, pois é no ano novo que as coisas acontecem.


Cleison Brügger